segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sou um “sem celular”

Achava que não era verdade - ou exagero - quando as pessoas falavam no suplício em tentar cancelar uma linha telefônica ou de celular. É pior. A tortura é subliminar em todas as etapas pelas quais se passa em transferências onde as telefonistas fazem de tudo para tentar convencer a desistir, pois além de tudo o que se leu de “vantagens” em ter estes serviços, ainda aparecem descontos, bonificações, oferecimento de novos aparelhos...
Depois que emergi da ligação, com mais de meia hora tendo o aparelho ao ouvido, tive que dar razão às estatísticas que mostram ser este ramo de serviços um dos que mais tem reclamações junto às instituições fiscalizadoras.
Já vinha fazendo a experiência de não me sentir “disponível” 24 horas por dia, procurando andar com o aparelho celular apenas quando era rigorosamente necessário. Aprendi a lição, com a professora Maria Lúcia, de que “vamos de casa para o trabalho, do trabalho para casa”. Portanto, qual é o sentido em ter este tipo de serviço? Se acontecer algum tipo de desgraça não pode ser pior se estivermos caminhando ou dirigindo um carro? Nos casos médicos, por exemplo, os serviços de urgência e emergência são acionados antes de se procurar algum parente.
Esta é uma forma de “desacelerar” o mundo, como escrevi em artigo anterior. Além de falar e ouvir, pressupostos básicos da telefonia, novos aparelhos são oferecidos como se qualquer atividade perdesse o sentido se não o utilizar. Ficamos dependentes de uma parafernália que envolve, aprisiona, mas descartável a cada breve período de tempo, para se consumir a última novidade.
Pequenas ações nos afastam da possibilidade de sermos reféns de recursos tecnológicos e dão a chance de buscar mais qualidade de vida em que, acima de tudo, o máximo exigido é o olhar, o sorrir, o abraçar, do que estarmos quase imobilizados diante de um computador e de seus mafiosos achaques.
Suspirei aliviado quando tive a confirmação de que eu era um “sem celular”, expressão cunhada pelo professor Jorge Malhão, quando conseguiu a sua alforria. Confesso que, durante alguns dias, ainda olhava febrilmente anúncios em jornais e revistas, mas, aos poucos, estes sintomas passam. Esta abstinência ainda pode me levar a alguma recaída, mas, hoje, tenho a sensação de liberdade, impagável por saber que algo não vai tremer ou gritar no meu bolso e sorrir do susto que vejo levarem quando isto acontece. Em tempos de “stress”, nada melhor do que alguma tranqüilidade!

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