domingo, 2 de novembro de 2025

“Vais cair, guri!”

Simplesmente assim:


Andar pela rua é o desafio

De quem precisa respirar,

Ver "gente", conversar...

Impedir que se fechem horizontes!

No que é sonho/realidade,

Distraído, os pés conduzem

Ao meio-fio da calçada.

Vozes alertam do passado:

"Vais cair, guri!"

 

Os meios-fios sucedem às valetas,

Uma parte da infância onde

A aventura transborda da imaginação.

As lembranças constroem um tempo

Em que se ouve

Com mais atenção o passado.

 

Um velho bobo

Anda sobre o meio-fio e

Vê na sombra o guri

Que insiste em perpetuar

Sentimentos e emoções.

 

Quando se impede a luz do Sol,

Os vultos desaparecem

Em remorsos e ressentimentos.

Equilibrar-se sobre

O tempo alcança um passado

De onde alvorecem sorrisos,

Marcados

Por muitas e preciosas recordações... 


(Imagens geradas pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Áudio e vídeo em https://youtu.be/XYUG3kUtWuc?si=6Xs1H2vOT4_XUOWE)

sábado, 1 de novembro de 2025

O Caminho Espiritual de Dom Helder Câmara

Leituras e Lembranças:

Este talvez seja um livro pouco conhecido. Mas merece atenção. Padre Ivanir Antonio Rampon, da arquidiocese de Passo Fundo (RS), publicou “O Caminho Espiritual de Dom Helder Câmara” como um estudo que ajuda a entender o arcebispo de Olinda e Recife. Foca na interligação entre a mística e a atuação profética. Destaca a ideia de que Dom Helder viveu a santidade, permitindo que a graça produzisse frutos para a Igreja e a humanidade. Classificou-o como um "místico original" cuja fonte espiritual era a religiosidade tradicional católica, especialmente a do povo cearense e nordestino. 

Dedica atenção especial às "vigílias" de Dom Helder, momentos de oração que cultivava e permitiram a experiência mística. As vigílias são marcadas pelas "meditações do padre José" (codinome), que expressam a dimensão mística e a prevalência da "vitória da Graça". O lema episcopal de Dom Helder, "In manus tuas" ("Em tuas mãos"), não era abstrato. Esse abandono total à Providência Divina tornou-se a sua "imensa força". Aponta que ela se se revelava "através da humildade", vivendo um estilo próprio da "infância espiritual", onde ternura e vigor se encontram em justa medida.

Traça a trajetória de Dom Helder, desde a primeira fase, em Fortaleza (sacerdócio e atuação política e educacional), como Secretário da CNBB (1952-1964) e a participação no Concílio Vaticano II, como signatário do Pacto das Catacumbas, onde se propunha superar a "era constantiniana" e levar a Igreja aos "perdidos caminhos da pobreza". Ao analisar as perseguições do regime militar, reforça o caráter profético de quem não era insensível às críticas, mas transformava humilhações num caminho de humildade.

"O Caminho Espiritual de Dom Helder Câmara" oferece uma leitura teológica e espiritual da sua vida, demonstrando que a atuação em defesa da justiça e dos pobres era reflexo direto e coerente de sua vida mística. Consolida a visão de precursor da "Igreja em saída" e modelo de pastor profético. Em tempos difíceis, tornou-se um mantra sua afirmação de que "quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista."

Dom Helder se doou na caridade, por amor a Cristo e sua Igreja. O relacionamento com Cristo era expresso: no calor de seu amor e na bondade de seu coração; na verdade de suas palavras; no alento dado à esperança; na beleza de sua prece. Rampon firma ser o arcebispo "autêntico doutor da fé, genuíno intérprete da verdade evangélica". O livro mostra a íntima ligação entre a vida interior e mística de Dom Helder e sua atuação pública e social, que o tornou uma figura notável para Igreja e para o mundo.

(Geração de imagens pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/5dDwxen4ZAE)

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

A voz política das mulheres

Artigo da semana:

Por favor, digam que é mentira (ou fake, como gostam os "estrangeiristas") esta história que começou nos Estados Unidos e já se move como uma serpente traiçoeira e venenosa pelos meandros políticos no Brasil. A de que se deseja acabar com o voto feminino em todas as eleições públicas, sob a ideia (machista, na sua pior acepção) de um voto por lares, tendo o homem como cabeça desta instituição.

É risível, pois lá e cá sua estrutura tem sido questionada. Tirar a voz das mulheres é crime, pois se caça uma conquista que custou o sangue de muita gente. Um machismo preconceituoso, criminoso e doentio de quem deturpa o sentido de cidadania. Já que são elas que comandam casas abandonadas por homens e que a política e o voto são o lugar sagrado para defenderem seus direitos e dos filhos.

Religiosos que endossam a tese, fixam-se num patriarcado do Antigo Testamento esquecendo os Evangelhos, em que Jesus dá voz à samaritana, transformada em missionária. Parou para ouvir a mulher com fluxo de sangue. Começa pela mãe, Maria; passa pela cruz, onde restou apenas um homem, João; Ressuscitado, elas fazem o primeiro anúncio. Jesus as liberta do silêncio da lei e da tradição.

Defender que mulheres não tenham direito ao voto, é um erro político, antiético, antievangélico… As mulheres não votando se tem meia democracia. Não compreendem que o voto foi conquista e não concessão. E toda conquista precisa de vigilância, especialmente de covardes ao fazerem suas pregações em rebanho, onde, gritando mais alto, balançam as estruturas dos mais simples…

O voto é a voz para cidadãos e cidadãs. Caladas, é omissão e covardia, abusando da lei do (ainda?) mais forte. Quem não quer as mulheres votando camufla a incapacidade de viver em sociedade. De ser confrontado com valores diferenciados que apontam uma política mais humanizada. Uma mulher, na vida pública, que não se espelha no que os homens tristemente já fizeram, é um sopro de esperança de que conviver em igualdade é um valor a ser sonhado e defendido… com o voto de todos e de todas!

(Geração de imagens pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/kAG_alhYCuk)


domingo, 26 de outubro de 2025

Simplesmente assim: O escrito

Aprendi que as palavras

Precisam ser cravejadas

Nas paredes da imaginação. 

Ali, onde não interessa a lógica,

Tramam o condão em que

Transtorna sonhos e

Dá vida à poesia.

 

Seus significados estão

prenhes de intenções,

Sempre aquém do que

O coração idealizou…

 

O lugar onde se escrevem

Ou apagam as letras

Fazem a sintonia fina.

Do que ficou, paira

O silêncio como compensação.

 

Revelar o que as torna

Preciosidades é a bênção

Dos Deuses.

Ao agraciarem o homem 

Com a incerteza,

A possibilidade de duvidar,

Provocando a rebelião dos sentidos...

E dos sentimentos!


(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/OzhBBYwRB-w)


sábado, 25 de outubro de 2025

A Violinista de Auschwitz, de Ellie Midwood.

Leituras e lembranças:

Este livro é um romance de ficção histórica baseado na experiência de Alma Rosé, uma talentosa violinista austríaca de ascendência judaica, sobrinha do compositor Gustav Mahler. A Protagonista, ao ser aprisionada em Auschwitz, tem sua vida drasticamente alterada. Por ser reconhecida como uma musicista de alto nível, recebe a oportunidade de formar e reger a Orquestra Feminina de Auschwitz.

A força do livro reside em mostrar como a música se torna instrumento de resistência, esperança e sobrevivência. Ao recrutar outras musicistas para a orquestra, Alma salva diversas mulheres da câmara de gás e de trabalhos forçados, dando uma chance de vida em um ambiente onde a morte era a única certeza.

Ellie Midwood é conhecida por sua pesquisa detalhada sobre a Segunda Guerra Mundial. O livro se baseia na vida de Alma, mas preenche as lacunas com elementos ficcionais, como o romance com o pianista Miklós, para dar profundidade emocional e criar uma narrativa mais envolvente. Não poupa o leitor das descrições detalhadas e brutais do cotidiano em Auschwitz, incluindo a fome, a doença, a crueldade dos guardas da SS e o horror das câmaras de gás.

Midwood explora a resiliência e a capacidade humana de encontrar laços afetivos e esperança. A orquestra, e a própria Alma, se tornam um farol para as prisioneiras. A música torna-se um ato de subversão e salvação para as mulheres. O livro aborda temas como o poder da arte, a coragem feminina em condições extremas, a sobrevivência e a memória de um dos períodos mais sombrios da história.

"A Violinista de Auschwitz" é um acréscimo valioso à literatura do Holocausto. Leitura comovente e inspiradora que homenageia uma heroína real, Alma Rosé, ao usar seu talento para salvar vidas. Com o foco na Orquestra Feminina de Auschwitz e um convite à reflexão, sobre a natureza do mal, a dignidade humana e a eterna busca pela esperança e beleza… mesmo num inferno criado pelo próprio homem!

(Imagens Internet e IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Áudio e vídeo em https://youtu.be/GHYrsRDgDJo)


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Os ventos que rondam a primavera

Artigo da semana:

“Os ventos que chegam com a primavera vão até o tempo dos Finados”, diziam os ainda mais antigos que nós. Diminuem no início do mês de novembro, mas até lá podem ser desde uma suave brisa, até as rajadas que batem portas e janelas. Disseminam o pólen das flores com as consequências de sempre: para uns, a maravilha de um tempo em que tudo o que brota da mãe Natureza ressurge, toma viço e desabrocha em brotos ou flores. A estação do ano em que, vencido o inverno, se prepara para viver a exuberância do verão.

Mas... para quem é dependente das "ites" (como a rinite, sinusite, bronquite, faringite e otite), um inferno astral de alergias, narizes correndo e sensação de desconforto pelo corpo inteiro. Não é apenas a possibilidade de que o organismo não se adeque com a estação do ano, mas de quem gostaria de ser "normal", aproveitando o que eclode no entorno e ganhar o carinho do sol. Capaz de Os ventos que rondam a primaverapesadas. Tempo em que se privilegia a sincronia da vida humana com o mundo verde.

Quando os ventos penetram por janelas e portas, tornam-se sussurros que embalam o sono, aconchegam, murmuram promessas. Fazem a festa dos poetas e delirantes. Também podem travestir-se da agonia de quem atravessa a noite carregado de preocupações. O que para uns é motivo para relaxar nas promessas de conforto e proximidade, para outros, é mau presságio, carregando ares em que horizontes se toldam, antevendo a tempestade. O que não se sabe de onde vem e também se desconhece seu destino…

Renova o ar presente sobre os aglomerados urbanos, oxigenando espaços poluídos. Ganha significados diversos em documentos religiosos como na Bíblia, por exemplo. Desde a presença inspiradora do Espírito Santo, que sopra onde quer e que não pode ser controlado, nem inteiramente compreendido pelo ser humano, até a destruição e guerra, em certas profecias bíblicas, como vistas nos livros de Jeremias e no Apocalipse. Não importa a cultura ou o povo, os ventos carregam presságios.

Inspirando meios religiosos, mudanças da física ou motivador nas artes e criatividade… Escrito nas folhas das árvores que se formam ou nos pássaros que fazem na madrugada um despertador que chama uns para vida e desencadeia o mau-humor de outros por acordar mais cedo. Enfim, importa que se faça a sintonia da alma com um tempo de limpeza, purificação e renovação. O sopro de novas energias. Despir-se das cargas físicas e emocionais é o chamado da rua para compartilhar a vida… Sem medo de ser feliz!

(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/rexa-tPkII8)

domingo, 19 de outubro de 2025

Onde guardo as balas de mel…

Simplesmente assim:

Onde estão as crianças?

​As bicicletas estão sobre a grama.

A bola de futebol escorreu

Para uma poça d'água.

​Nos pátios, camisetas e calções

Embandeiram os varais.


​O cachorro espia pela porta,

Sentindo o alarido que vem da rua.


​Onde estão as crianças?

​O tempo tolda as lembranças

E já não consigo distinguir

O presente do passado que

Ronda as minhas memórias.


Onde estão as crianças?

​No silêncio das suas ausências,

Os sonhos permitem que desfrute

De momentos fugidios em que elas

Ainda estão ali,

Correndo pelos corredores,

Invadindo a cozinha,

Implicando comigo,

Querendo o pote de bolachas

Ou o vidro onde ainda guardo as balas de mel…


​E quando o doce se desmancha na boca

Libera afetos que rondam as saudades.

Impedindo que se perca o que ainda resta 

Do que já foi um sentido para se viver…


(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/UCruaSaj5_E)