Recentemente, foi realizado na fronteira com o Uruguai um encontro de pessoas que tinham uma paixão em comum: andar em carrinhos de rolimã. Certamente, os mais novos não conhecem e é preciso explicar: para quem viveu a infância ainda no século passado, era um pedaço de tábua colocada sobre duas “barras” de madeira, suportadas pelas mais diversas enjambrações de rodados. Parei diante da televisão, vendo o produto das memórias, agora feito por pais (e mães) que desejavam ter um gostinho de passado.
Também apresentavam aos filhos um tipo de diversão que consumia muito tempo de preparativo, gasto em pregos, tombos e reprimendas. Mas, fazia parte. No entanto, os carrinhos de rolimã de agora são mais modernos: já com rodados em que se utilizam rolamentos de metal, freios, capacetes e apara vento. Também chamado de carrinho de lomba (hoje está na Wikipédia e é vendido pela internet), mudou de figura. Satisfaz as boas lembranças e parcerias de pais que, por muito tempo, brincaram em ladeiras.
No nosso caso, raramente se conseguiam os
rolamentos, então, era preciso de criatividade e gastar pregos e a ponta dos
dedos. As rodas de madeira não resistiam muito tempo. Descobrimos, então, que
se podia garimpar pedaços de lata e encontrar um maior, ou um adulto, que
cortasse e ajudasse a fazer a cobertura dos rodados. O fundo das casas - o
pátio - era o lugar das oficinas. Quase todas as casas tinham um galpão e,
nele, um armário onde o pai guardava seu material de pequenos serviços.
Junto com as ferramentas, havia um “tesouro”: uma
caixa de pregos, que, com o martelo, viravam a ocupação de toda uma tarde, até
que alguém gritasse: “a mãe tá chamando”. E como as sirenes que avisam o final
do expediente, íamos ouvindo uma a uma gritar por seus filhos e tomarmos o rumo
das casas. As aulas eram pela manhã e, à tarde, se voltava às lides. Uma
sensação maravilhosa quando a “máquina” ficava pronta para chegar às ruas e
podermos exibir que, agora, também estávamos “motorizados”.
Minha rua era de chão batido e tinha uma descida
próximo de onde agora está o bairro Quartier, com um engenho desativado na
baixada. Havia outra na avenida 25 de Julho, mas, por ser de muito movimento,
não nos era permitido sair da vila. Então, nos revezávamos em puxar o carrinho,
com “tração de moleque”, enquanto um de nós dirigia. Como “pra baixo todo o
Santo ajuda” era uma festa! Descíamos até parar, no que se considerava em “alta
velocidade”. Sem freio, um erro podia pôr tudo a perder...
A gente não se importava com joelhos e cotovelos
esfolados, roupas sujas ou rasgadas, embora soubesse que a bronca viria. Não
lembro de meninas participando. Fiquei feliz ao ver homens e mulheres revivendo
suas memórias afetivas. Sozinhos ou com filhos e filhas, despertaram a
curiosidade de um novo/velho brinquedo. Nos braços do pai ou da mãe, seus olhos
brilhavam. Ficou o carinho da partilha de memórias e a adrenalina, que não se
importa com a idade, em meio a uma aventura que deixa o gosto de saudade!
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