Não sou economista. Fui professor e jornalista, hoje aposentado, mas, antes de tudo, sou cidadão que procura ser bem informado e crítico com relação à realidade. Fiquei atento ao acompanhar informações a respeito da queda dos preços ao consumidor, sendo que uma grande parte dos meios de comunicação (em especial a televisão) apontava os números na relação dos dois anos recentes. Como ninguém iniciou a vida no ano passado, minha preocupação passou a ser: tudo bem, diminuíram os preços e daí?
No histórico, não estamos perdendo? Isto
é, preços que foram aumentados em 100% (ou mais, por exemplo), nos últimos anos,
agora reduziram em 10% e é suficiente para se comemorar? No frigir dos ovos,
quem ganha salário ou benefício – trabalhador, aposentado ou segurado – não
teve reposto no seu vencimento aquilo que perdeu ao longo deste período. Veja-se
a relação do salário mínimo – que é referência – com a cesta básica. Em 2023,
dependendo do estado, gastou-se 400 reais para a alimentação.
Podem confirmar na internet: nas capitais do Norte, a cesta mais barata, como em Rio Branco, custa 341 reais. Nas cidades do Sudeste, a mais cara, em São Paulo, em torno de 450 reais. Em média, a cesta básica representa 53,63% do salário mínimo nacional. Como assim? E os demais gastos como moradia, saúde, transporte, educação, para citar alguns? Isto, falando de quem recebe salário, 34,4% da população brasileira, que coloca no bolso $1.320,00. E já de olho naqueles que perderam seus empregos na pandemia.
Voltam ao mercado com vencimentos achatados. A retomada do emprego tem um
viés assustador: diminuiu o valor do salário, tendo como consequência cortes
nos gastos, um deles: a comida! O Brasil vinha vencendo gradativamente o mapa
da fome. Nos últimos anos, retrocedeu. Se for preciso “desenhar” vou me valer
de igrejas, associações, sindicatos, voluntários que organizam almoços, jantas
e, muitas vezes, um café reforçado para que um número maior de pessoas não
durma de barriga vazia...
“A fome tem cara”, “quem tem fome tem pressa” são algumas das frases que
nasceram de pessoas com grande envolvimento social e hoje viraram chavões
políticos. Naquela história de que quem diz finge que fala a verdade e quem
ouve faz de conta que acredita. Uma massa desanimada e indiferente não entende
e não tem condições de esperar por discussões teóricas em que quem discursa
ganha em cima da fome de outros. Vencer a fome não é para amanhã com novas
promessas de políticas públicas.
A fome de olho na abundância... Hoje, o mundo produz alimento suficiente
para toda a população. No entanto, a distribuição privilegia alguns e aumenta a
desigualdade social. América Latina e Caribe tem um programa para vencer a
fome. Neste fórum, o Brasil se compromete em cumprir a meta até 2030. São
escolhas políticas que fazem o mapa da fome... Tristemente, somos cúmplices de
uma solidariedade incapaz de resolver um problema elementar. Hoje, é um desafio
político que clama por uma consciência social.
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