terça-feira, 11 de julho de 2023

Os “ganhos civilizatórios” da pobreza

Semana passada, organismos internacionais advertiram de que os próximos anos devem ter temperaturas maiores do que a média, como vem se percebendo. Por dois dias consecutivos, a Terra alcançou a temperatura mais alta da história. Problemas climáticos são uma realidade, aceitos ou ainda negados. Na esteira de uma discussão que somente tem empurrado o problema com a barriga, o Brasil perde tempo em não se concretizar como o país que dá exemplo de preservação ambiental e celeiro da humanidade.

Porque misturo os dois assunto? Simples, na mesma leva de notícias, confirma-se que a guerra na Ucrânia está dificultando uma das grandes rotas de fornecimento de alimentos. Somada à questão climática, redesenha-se a geopolítica da produção e transporte de víveres, em especial direcionados para os Estados Unidos e a União Europeia. Querendo ou não, os grandes consumidores precisam encontrar novos fornecedores em condições de espaços físicos e mínima estrutura logística.


Sem entrar no mérito (e nem no demérito) dos grandes e pequenos produtores, há décadas que se ouve das autoridades que nossas potencialidades agrícolas são quase infindas. Então, o que falta? Pode começar por vontade política. Senão, vejamos, quando se discute uma reforma tributária, os privilégios continuam sendo para setores financeiros supostamente geradores de empregos. O que tem, especialmente nos dias recentes, asfixiado os pequenos prestadores de serviços, assim como o comércio local.

Paradoxalmente, quem diz defender populações marginalizadas não sente vergonha - "pela causa" - em aumentar alíquota de impostos sobre alimentos. Com a desfaçatez de que há uma realidade nua e crua: quanto menos se ganha mais se paga imposto no Brasil. Confirma que o crescimento econômico se transforma em falácia se não trouxer o pleno consumo básico para a população mais pobre. Numa estatística macabra de que ainda temos 62,5 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, isto é na miséria.

As mudanças climáticas já estão impactando e fazendo repensar a forma como se produz alimentos no Mundo. Já se sabe que amplas áreas na América do Sul, em especial no Brasil, podem (e devem) ser preparadas para concretizar o sonho de um dos celeiros do Mundo. Não é ufanismo, é realidade. Nas mais variadas regiões, comprovam-se as potencialidades. Havendo necessidade de que se aumente a “produção do bolo” e, ao mesmo tempo, se faça a sua redistribuição, na luta pela sobrevivência.

Os “ganhos civilizatórios”, infelizmente, são parte do discurso que ludibria até os bem intencionados. A pandemia não nos fez melhores. Estão aí os números alertando que os ricos ficaram mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Vale a pena repetir Nelson Mandela: “A superação da pobreza não é um mero gesto de caridade. É um ato de Justiça. Enquanto a pobreza persistir, não haverá a verdadeira liberdade”. Eis a razão de ser da política, da economia e de todas as ciências que deveriam servir a humanidade...

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