O que dói quando o tempo passa
E as lembranças machucam os
sentimentos?
Saber que as pessoas que estiveram
em nossas vidas
E os momentos que se desejava que
fossem eternos
Não receberam a devida atenção.
Nos tornamos escavadores de
memórias.
O andar de uma vida nos envolve em
incertezas,
Somos iludidos por nossas
reminiscências.
Foi, realmente, assim?
Éramos tão jovens...
Cheios de sonhos que julgávamos
possíveis,
Vendo o Mundo com a certeza de que
o faríamos melhor,
Crendo que o tempo era infinito
- Não havia pressa -
Suficiente para todas as
realizações...
Pensávamos que as pessoas seriam
eternas.
Mas houve uma procissão de
ausências...
Primeiro, seguiram os amigos,
Na busca por novas oportunidades;
Foram-se os pais,
Recolhendo-se à morada do Ser
Supremo;
Afastaram-se os irmãos,
De carne e de coração,
No rumo dos seus próprios destinos.
E todos deixaram os rostos
estampados na galeria da saudade.
Hoje, apertam na garganta as
ausências.
A lembrança de que os sorrisos e os
risos eram fartos.
Brincava-se com as parcerias
Nos ônibus para a escola ou o
trabalho,
Nos pontos de encontros e diversão,
Nas provocações de quem se animava
A enviar recadinhos quando não se
tinha
Coragem de chegar até alguém por
quem se suspirava.
A vida era simples.
Tínhamos o cheiro da terra e da
inocência.
Andava-se à pé ou de bicicleta.
Conhecia-se a roupa de cada um do
grupo,
Ou, de longe, se antevia a pessoa
amada,
O seu perfume de fim-de-semana
Ou da noite dos bailinhos...
A vida era simples.
Era-se feliz com o que se tinha.
O quartinho compartilhado
A sala para a família,
A cozinha - o lugar das conversas,
A rua e as cercas como espaço de
vizinhança.
Éramos tão jovens...
Que nem sentimos a vida passar.
Aos poucos, nos conformamos
De que não havia volta.
Mesmo diante do espelho,
Ainda se brinca com a imagem que
imita,
Mas não recupera, a vitalidade
daqueles tempos.
Nas brumas que anuviam os sonhos,
Deslizamos para vozes
Que teimam em sussurrar nomes e
rostos,
Que perpetuam os contornos na nossa
imaginação...
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