domingo, 23 de julho de 2023

As cacimbas e os poços d’água

Nos últimos tempos, em termos de clima, fomos dos “8 aos 800” num piscar de olhos. Situação como a de Bagé, a mais difícil, mas também do abastecimento de água em Pelotas, tem sido problema, em especial quando grande parte da população se concentra no meio urbano. Da estiagem com racionamento ao ciclone e acompanhantes - as cheias dos rios - foi um estalar de dedos para demonstrar o quanto a Natureza é “imprevisível” quando se despreza os sinais que dá e as medidas preventivas são apenas promessas.

Sou ainda do tempo em que se usavam cacimbas e poços como reservatórios de água. Não creio que as pessoas fossem mais previdentes, mas era menos gente, com hábitos diferenciados de consumo. Banhos, por exemplo, eram em menor número. As cacimbas eram poços mais superficiais, escavados, normalmente, de forma manual, para uso doméstico, sempre na proximidade das casas. Os poços usam equipamentos capazes de fazer perfurações mais profundas, alcançando águas mais internas na Terra.


Ao chegarmos em Pelotas, 1959, lembro de duas cacimbas que já não eram exclusivas, mas auxiliavam no caso de falta. Uma ficava na “chácara dos portugueses”, em frente da minha casa, portanto, particular, necessitando da autorização para uso. A outra, ao lado do atual condomínio Granada, que, então, tinha uma sanga. A rede de distribuição era precária. Ainda não existiam recipientes plástico, como hoje, de diversos tamanhos. Então, para nós, crianças, era uma festa juntar baldes, chaleiras, garrafas e ajudar.

Nas casas, os canos que traziam a água da rua passavam para os pátios, onde era instalada uma torneira que atendia a todas as necessidades. Dali saia água para cozinha, banho, banheiro... Alguns ainda vão lembrar dos banhos de “canequinha” ... Por algum tempo, havia resquícios de bebedouros na av. 25 de Julho, que era parte do Corredor das Tropas. Tanques, com uma torneira, que enchiam para saciar a sede dos animais, levados para os abatedouros. Viravam notícia e aglomeração quando apareciam.

Como vim de Canguçu com 4 anos, não lembro de cacimbas no lugar onde moramos. Ao voltar para visita, admirava a da minha avó e da tia Ester, próxima das casas, passando por lavouras e penetrando num mato fechado, sendo que, ao redor do poço, mantinha umidade e o ambiente propício para os cuidados que tinha com as samambaias e avencas. Além de ser um lugar refrescante, também com outras plantas, era onde me encantava com a presença e a diversidade de pássaros da região da Costa do Sapato.

Na passagem do ciclone pela costa gaúcho, quando deu “preferência” para Rio Grande e Pelotas, parece que o setor público foi pego “de calças na mão”. A grita dos usuários pela luz tinha, implícito, um outro grande problema: a falta de água, que faz parte do dia a dia de forma tão natural que nem se percebe a importância. Que bom que se evoluiu para ter estes serviços em casa. Que pena que embora se pague caro ainda se precise mendigar pelo elementar: que não falte e cumpra o papel de ser um serviço público.

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