Conforme aumentam as carências da população, aumentam, também, aqueles que, por voluntariado ou caridade, procuram minimizar os sofrimentos de quem não consegue alcançar o respeito a direitos elementares, em especial, as crianças. Atividades de Organizações Não Governamentais (ONGs), grupos sociais e religiosos, assim como por pessoas físicas. Dos muitos registros que os meios de comunicação fazem todos os dias, há uma dura percepção: a sociedade faz o possível, mas não é o suficiente.
O atendimento a quem está em risco – fome, saúde, desastres naturais ou provocados
pelo homem, omissão do processo educativo... – já esteve em mãos de religiosos,
em especial do Cristianismo, mas é virtude consagrada por muitos credos. Santa
Helena, mãe do imperador Constantino, teve (o que era comum, então) escrava
colocada para fora de casa porque fora contaminada por peste. Saiu às ruas
procurando e a encontrou atendida numa igreja, onde, desde então, se
voluntariou para cuidar de doentes.
O problema não é de quem se coloca à disposição para prestar um gesto de caridade, mas da macroestrutura que, hoje, deveria ser de responsabilidade do estado. Que bom que amigos e companheiros de igrejas ou grupos se mobilizem distribuindo alimentos, auxiliem no recolhimento de material necessário para os lares, assim como a prática de esportes, o lúdico, a arte, a cultura, o reforço escolar... Auxiliam meninos e meninas que poderiam – e deveriam – exercer a cidadania, um direito elementar que lhes é negado.
Do qual o estado é fiador e responsável. Embora desgastada e vulgarizada a
expressão "resgatar a cidadania" é uma realidade que se impõe. Numa
matéria para televisão, chocou a pergunta: "sabes usar as letrinhas?"
para uma criança em idade escolar avançada, que vive a sua miserabilidade
cultural, ao não conseguir se apropriar do elemento básico – leitura e escrita
– para ter um olhar crítico e entender o Mundo. Sem o que não consegue quebrar
as desigualdades e está fadada a viver o seu torpor social...
Repete-se o óbvio quando se diz que a criança precisa ser prioridade
absoluta de toda a sociedade. Está lá, na Constituição. Se as carências afetam
aos adultos, germinam nos pequenos gerações apáticas pela ausência de
atendimento por parte de políticas públicas e pais despreparados e pressionados
por necessidades básicas, que encontram nos eletrônicos, por exemplo, “babás”
que lhes dão alguns momentos de sossego. Sozinhos ou apenas com o auxílio de
voluntariado não se consegue mudar o que é estrutural.
Algumas atividades mostram que existem caminhos. Como a Pastoral da
Criança, da Igreja Católica, assim como o programa Primeira infância melhor
para famílias em situação de risco e vulnerabilidade social. São acompanhadas
para fortalecer a competência de educar e cuidar do desenvolvimento físico,
intelectual, social e emocional. Fica claro que a solidariedade está longe de
ser dispensada. Pelo contrário. É o início de um processo onde a cidadania deve
ser aprendida – e vivida – desde o berço, não como favor ou concessão, mas
inerente à própria dignidade humana.
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