Tenho obsessão por ruas.
Explico-me: ao ver uma rua, ela naturalmente joga sobre mim o seu charme e
provoca-me a percorrê-la. Então, se for o caso de uma rua com árvores, jardins
que despertam curiosidade e prédios que escondem pequenas preciosidades, não há
o que fazer: é colocar as mãos nos bolsos, olhar para o horizonte prometido e
seguir, seguir e continuar seguindo.
Muitas vezes, fico com medo de
que andando por ruas desconhecidas, um dia haverei de me perder. Até agora,
isto não aconteceu, e muito ganhei em deixar minha curiosidade traçar o mapa
das ruas de uma cidade qualquer, que, a partir daquele momento, passaram a
serem únicas, inesquecíveis nas promessas que me fizeram, no sentimento de
acolhida que propiciaram.
É como sentir um desejo
irreprimível, guardado desde sempre em meu ser, que desperta quando algum
indicativo, numa determinada rua, diz que é por ali que devo ir. E vou. Mais ou
menos como segue a vida das pessoas. Embora pensando que, em algum lugar,
haverá uma surpresa, elas são agradavelmente previsíveis, mesmo em suas
diferenças.
Então, as ruas, para mim, são
como as pessoas, somente que em silêncio. Elas atendem àquela outra necessidade
que é a de, em determinados momentos, podermos esvaziar nossas mentes na pura
expectativa do nada fazer, da plenitude de um respirar fundo e sorver ares
diferentes daqueles aos quais habitualmente estamos acostumados.
Soltar o olhar em direção ao
fim da rua onde uma árvore demarca uma esquina; ou voltar os olhos para um
arranjo de flores que cai pela grade da janela; ou ainda sorrir para o cãozinho
que brinca no jardim com a criança sentada na grama e apegada a uma bola.
Assim como as pessoas, as ruas
também sempre fazem com que reencontre meu rumo. Não me assusto quando, muitas
vezes, distraidamente, volto ao lugar de onde saí. Só assim é possível
recomeçar de novo. Só que agora sabendo que, em algum lugar, há uma árvore, um
arranjo de flores, uma criança e seu cão.
Esta é a plenitude de se viver
em um meio urbano. Mais que isto, para quê?
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