Hoje (sábado, 21), a mãe voltou a sentar conosco à mesa para
o almoço. Fazia muito tempo que precisávamos servir aquelas doses quase homeopáticas
– uma colher de arroz, um pouquinho de caldo de feijão, algum tipo de salada,
uma parte da carne de frango – em uma bandeja, usando uma almofada e uma
toalhinha como protetor para o peito.
A Vânia, minha sobrinha, almoçou conosco e perguntou se ela
não chegava à mesa. Com a mania de reforçar a pergunta, também fiz a mesma
coisa: “a senhora vai sentar na mesa?”. Olhar de carinho e deboche: “posso
sentar na cadeira e à mesa?”
Talvez quem não conviva com um idoso e tenha sentido ele
chegar ao fundo do posso, não saiba o quanto são saborosas as pequenas vitórias
que vão mudando rotinas que, parecem, tornam-se cada vez mais difíceis, penosas
e encaminhadoras do final.
O fato de fazer pequenas escolhas – entre uma fruta e outra,
um tipo de pão e outro, usar a bandeja ou ir à mesa, deixar de utilizar a
fralda geriátrica durante um período do dia – faze a diferença e alimenta
novas esperanças.
Quando meu pai e minha mãe começaram a enfrentar uma fase
mais difícil, a partir dos 85 anos, fiz uma opção: ficaria com eles, em
qualquer situação, enquanto estivessem lúcidos, não importando suas condições físicas.
O pai, infelizmente, um câncer abateu, mas a mãe tem uma madeira forte e, ao
que tudo indica, ainda vai durar muito tempo.
O que as pessoas julgam que é um sacrifício, para mim acabou
se tornando um exercício de solidariedade. No cuidado com uma pessoa, hoje,
desapareceram toda e qualquer tipo de vergonha. Somente faço questão de que
as atendentes respeitem aquilo que são situações em que o próprio paciente não
admite. O resto é como plantar uma semente na esperança de que, num futuro, em momento semelhante, alguém faça o mesmo por mim.
Pequenas vitórias, grandes passos. Num final de semana, no
aconchego do frio que chega, rezo a Deus para que me dê forças. A caminhada nem
sempre é fácil, mas, ao longo dela, quando tudo parece faltar, há uma mão
estendida em pedido de auxílio para reiniciar a caminhada e um sorriso em aconchego, no obrigado que já não precisa mais ser dito.
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