Angola ficou mais próxima, na
medida em que um intercâmbio de formação universitária trouxe a Pelotas os padres
Quintino, Martinho e, agora, Augusto. Foram e são fontes de conhecimento sobre
o continente africano, que tem problemas muito semelhantes à América do Sul,
destacando-se a pobreza de um grande contingente, assim como uma praga que
crassa dos dois lados do Atlântico: a corrupção pública.
O convencimento de que é preciso
colocar sobre as estruturas populares e locais uma representatividade democrática
traz, junto, a estrutura de poder como conhecemos, hoje, tanto aqui, quanto lá:
executivo, legislativo e judiciário. O problema começa quando esta máquina se
torna insaciável e consome o que arrecada na sua própria manutenção.
Eles estão recém saindo de uma
guerra civil. Contam o que é perder pessoas próximas, como familiares, ou até
colegas de seminário, por barreiras ou mesmo as minas que explodindo além de
ceifar vidas, também são responsáveis por um bom número de pessoas sem algum de
seus membros. Esta experiência nós não tivemos. Mas temos, sim, guerra não
declarada, nas periferias das grandes cidades, com “leis” também não
declaradas, pelo tráfico de drogas e a satisfação das necessidades do crime
organizado.
Da organização tribal, começam a
recuperar valores perdidos na ocidentalização: a organização onde quem coordena
está a serviço e não para se servir; o valor dos laços familiares e o respeito
pela vida alheia, na própria tribo e com os quais se relacionam.
Outro problema comum diz respeito
às riquezas naturais: o Brasil é olhado com cobiça pelo potencial na produção
de petróleo. O mesmo acontece com Angola. Aqui, os Estados Unidos tramam
relações que coloquem suas empresas no meio de um negócio com lucro certo. Por
lá, Portugal, na origem da colonização e que fugiu daquelas terras, volta e
quer “ajudar” a “administrarem” estas riquezas. Como esta gente é boazinha!
A troca de experiência faz uma
grande diferença. Reaprender hábitos tribais pode refazer relações sociais. Se
há riqueza nos solos, também há uma riqueza cultural e espiritual clamando por
ser incentivada. Este é o maior intercâmbio: aprender com valores que, embora
sufocados, teimam em renascer no encontro entre dois povos.
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