De novo, do livro "Remendos e Arranjos".
A mão que se coloca sobre meus
lábios tem uma força que nunca pensei ser capaz de enfrentar. Ela não apenas me
induz ao silêncio, mas também me diz, reforçada por um olhar que grita, que já
não são necessárias palavras. Os significados acabam se evaporando quando
preenchemos os espaços que não é mais do dito, mas do quanto se é capaz de
calar.
Neste momento, o coração fecha
os olhos do corpo e aconchega-se numa serena oração. A oração que não pede a
Deus que abra espaços para que Ele possa entrar, mas que já é a porta capaz de
provocá-lo, assim como Ele é capaz de fazer as suas próprias provocações.
Não há grandes explicações
para estes momentos em que o espírito foge do próprio corpo e, então, é capaz
de se manter em contato, ser absorvido, retornar aos braços do Eterno
Descanso.
Quem ainda não conseguiu fazer
esta experiência, ainda não foi capaz de viver. Porque o sentido do viver está
em que, passando por este corpo, nossa energia precisa revitalizar-se em
contato com a fonte primeira. E é ela quem pode dar sentido ao viver. Viver,
por viver, é perda de tempo. Um tempo precioso demais para ser desperdiçado. E
que precisa, olhando para o horizonte sempre a construir, ser capaz de viver o
aqui e o agora com a intensidade de quem sabe que não pode desperdiçar nenhum
momento.
Este sentido está na finitude
das pequenas coisas: uma bela manhã de sol, esfregar o rosto no rosto de uma
criança, “amassar” uma pessoa amada, viver o trabalho não como um fardo, mas
como um espaço onde se partilha felicidade.
A receita é, na verdade, muito
simples: é preciso amar, amar e, quando faltar tempo, amar mais ainda.
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