Não culpo o tempo.
Quando me dei conta, havia passado
e,
Na sofreguidão de buscar pela vida,
Esvaíram-se muitos e doces
momentos.
Ao envelhecer, perdi, aos poucos,
A sensibilidade do toque,
O olhar intenso e a proximidade
Daqueles que a vida deu como
especiais.
Vasculhei lembranças para ainda
Ter presente o que era uma bênção
E muitas vezes parecia sem sentido:
A carícia da criança que explora
Com a curiosidade
Da ponta dos seus dedos;
O abraço silencioso e apertado
Da paixão ou do companheirismo,
Nos momentos de dor,
Assim como em instantes de alegria.
Dos beijos e dos corpos que se
fundem,
Quando há o envolvimento de um
olhar
Que diz quase tudo,
Ao antecipar a acolhida de um
abraço.
As fragilidades que colocam
barreiras
E perde-se para o medo
Que mantém afastados aqueles que se
ama.
Dizem que nos tornamos “grandes” e
Não se pode continuar fazendo o
Que se fez em criança ou quando
jovem.
A idade que leva a um leito
hospitalar,
Uma cadeira de rodas, a casa de
repouso,
Com o distanciamento que não se
pediu
E, no entanto, se torna realidade...
Quem disse que deveria ter sido
assim?
Não importa.
Perde-se ao não se vivenciar com os
filhos
O simples fato de dar e receber
carinho.
De outra forma, viramos idosos
totens:
Respeitados, admirado de longe,
Mas que já não se deve tocar.
Não há volta no envelhecimento.
E aceitar não significa resignação.
Na escalada em que se vence o
percurso,
À medida em que as forças diminuem
E o ar se torna rarefeito, enfim,
Se desvenda a compreensão do
horizonte.
A chegada,
No silêncio e na paz,
Tem o sabor de que valeu a pena.
O instante das despedidas,
Em que se torna mais doce o tempo
De fazer a colheita das muitas
saudades...
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