sexta-feira, 12 de abril de 2024

A colheita das muitas saudades

Não culpo o tempo.

Quando me dei conta, havia passado e,

Na sofreguidão de buscar pela vida,

Esvaíram-se muitos e doces momentos.

Ao envelhecer, perdi, aos poucos,

A sensibilidade do toque,

O olhar intenso e a proximidade

Daqueles que a vida deu como especiais.

 


Vasculhei lembranças para ainda

Ter presente o que era uma bênção

E muitas vezes parecia sem sentido:

A carícia da criança que explora

Com a curiosidade

Da ponta dos seus dedos;

O abraço silencioso e apertado

Da paixão ou do companheirismo,

Nos momentos de dor,

Assim como em instantes de alegria.

 

Dos beijos e dos corpos que se fundem,

Quando há o envolvimento de um olhar

Que diz quase tudo,

Ao antecipar a acolhida de um abraço.

As fragilidades que colocam barreiras

E perde-se para o medo

Que mantém afastados aqueles que se ama.

 

Dizem que nos tornamos “grandes” e

Não se pode continuar fazendo o

Que se fez em criança ou quando jovem.

A idade que leva a um leito hospitalar,

Uma cadeira de rodas, a casa de repouso,

Com o distanciamento que não se pediu

E, no entanto, se torna realidade...

 

Quem disse que deveria ter sido assim?

Não importa.

Perde-se ao não se vivenciar com os filhos

O simples fato de dar e receber carinho.

De outra forma, viramos idosos totens:

Respeitados, admirado de longe,

Mas que já não se deve tocar.

 

Não há volta no envelhecimento.

E aceitar não significa resignação.

Na escalada em que se vence o percurso,

À medida em que as forças diminuem

E o ar se torna rarefeito, enfim,

Se desvenda a compreensão do horizonte.

 

A chegada,

No silêncio e na paz,

Tem o sabor de que valeu a pena.

O instante das despedidas,

Em que se torna mais doce o tempo

De fazer a colheita das muitas saudades...

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