Aqueles que ainda não se cansaram da guerra entre Israel e o Hamas (quem ainda presta atenção à disputa entre a Rússia e a Ucrânia?) atenta para lances que parecem contraditórios, beirando o deboche. É o caso da chamada “solidariedade” internacional em que o primeiro mundo define estratégias para lançar alimentos aos já combalidos e desesperançados palestinos, sem reconhecer que é de seus países de onde vêm as indústrias armamentistas que, no caso, angariam riquezas às custas da desgraça alheia.
Nos bancos escolares, trabalhava com os alunos algumas “palavras prostituídas”. Pode parecer forte, mas é a verdade. Muitas delas foram despojadas do sentido original e passaram a significar coisas completamente diferentes. No caso, “solidariedade” é ato de cuidar de alguém (ou de um povo). No xadrez dos interesses geopolíticos é estratégia de vender a imagem de que se preocupam, sabendo que, em muitos casos, o programado não se tornará realidade, o que não importa, já que ganhou a grande mídia...
Tão triste quanto “avacalhar” o sentido
de solidariedade é o que fizeram com a palavra “amor”. Não importa a definição
que se dê (e sequer sei se a definição é tão importante assim), é o sentimento
de interação entre dois espíritos que passam a necessitar da presença um do
outro. Formando casais, amizades, relações familiares... Não importa. O que não
pode é ser banalizado para apenas “fazer amor”, como se o ato sexual sugasse
toda a energia e monopolizasse o sentido. Também pode ser ato de amor, mas não
só...
O papa Francisco tem alertado para a
prostituição da palavra “democracia”, sobre a qual falei, aqui, no texto “é
possível a amizade social de Francisco?” Transcrevia: “qual
significado tem hoje palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade?
Foram manipuladas e desfiguradas para utilizá-las como instrumento de domínio,
como títulos vazios de conteúdo”. A “democracia” tem sido “boa” para grupos que
ambicionam o poder pelo poder e que lutam com unhas e dentes para manter seus
privilégios.
Trabalhei durante algum
tempo com uma das mais belas áreas do processo de comunicação com interação nas
áreas da economia e da administração: o “marketing”. Usava como conceito básico
ser “a arte do convencimento”. Defendia que apenas “marqueteiros” (e não
profissionais do marketing) poderiam pensar que é a forma de ludibriar
incautos, fazendo proselitismo e que o consumidor, seja de produtos ou ideias,
tem que ser “convencido” (cabresteado) de que precisa do que se está
oferecendo.
Faço um breve resumo,
especialmente porque, tenho certeza, o leitor vai flagrar vocabulários que se
encontram na mesma situação. A palavra tem sentido, peso e sabor. Aprender a
usá-la bem é uma arte, um prazer e uma responsabilidade. Comunicação sem sabor
e prazer é comunicação sem graça, sem tempero... Precisam ser acarinhadas e
tratadas com respeito. Ao mesmo tempo, da forma sorrateira como é apresentada é
para a população uma armadilha de cobras da qual, infelizmente, não há muito
como escapar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário