O Coletivo Autores de Pelotas (CAP) realizou no início do mês de março o projeto “Esqueça um livro”, com um convite: “vamos espalhar literatura pela cidade?” Na manhã de um sábado, autores e interessados se reuniram em frente ao sebo Icária (em Pelotas, nos fundos do Mercado Público), onde fizeram registros e, depois, cada um saiu em busca de um lugar onde pudesse “esquecer um livro”, para acarinhar potenciais leitores. Também havia o pedido de que se levasse uma ou mais obras para doação.
Uma forma delicadeza de colocar um livro no meio do
caminho... Ideia que segue a tendência de grupos literários pelo Brasil que se
esforçam para incentivar este gosto na população, especialmente entre os mais jovens. É triste constatar que ainda somos um país onde a leitura é bem
reduzida. Livrarias e sebos lutam com dificuldades para sobreviver. O mesmo se
diz dos escritores, que são os retratistas da alma de um povo e, mesmo assim,
não conseguem espaço para concretizarem o acesso a este bem cultural.
O livro pode ser “perigoso” porque contribui para estimular o senso crítico do seu leitor. Quando se fala assim se tem a impressão que é a respeito apenas de política, mas não: toda a área do conhecimento onde se pensam profissionais que não sejam apenas técnicos (“fazedores”), mas conhecedores das realidades sociais, seus problemas, contextualização e que procurem fazer parte das soluções. Publicações em forma de livro, no Brasil, ainda são caras na correspondência com o salário mínimo, por exemplo.
Num valor em que não cabe sequer o atendimento das
necessidades básicas, não há mágica. É sonho desejar que atendam também aos bens
culturais ou de entretenimento. Pior ainda é que não se tem uma cultura da
leitura. Além da realidade financeira, privilegiam-se instrumentos que se
tornaram “babás eletrônicas”. Até em função de que este é costume que necessita
ser “aprendido”, passado de geração em geração, investir tempo em acompanhar,
dispor-se a esclarecimentos, discussões e leitura em conjunto.
Mais fácil, infelizmente, é entregar um “joystick”
ou um controle remoto e ter um filho anestesiado pelos meios eletrônicos durante
algumas horas... Tentativas de popularizar a leitura até alcançaram alguns
segmentos, especialmente o juvenil, como as sagas do Harry Potter, Senhor dos
Anéis e Percy Jackson, por exemplo. Personagens que ganharam o gosto popular e
que migraram das páginas dos livros para as telas e telinhas. Torna-se um mundo
encantado pela magia das palavras e das ilustrações.
A ideia do Coletivo de Autores não é boa, é ótima!
Encontrar um livro no meio do caminho: num banco de praça, na mureta de um
chafariz, na beira da vitrine da loja, receber das mãos de alguém, se
transforma numa agradável surpresa. Andar de mão em mão é melhor do que ser
esquecido e juntar poeira numa estande. Como antigamente se fazia com os gibis,
que eram motivo de troca, aproximando quem compra de quem quer sentir o cheiro
e a sensação de folhear páginas e imergir numa boa história, numa aventura, num
romance, no instante único de cumplicidade entre o autor e o seu leitor!
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