Fiquei curioso com o termo. Confesso que não lembrava de tê-lo ouvido: “passarinhar”. Especialmente dito por um menino de sete anos, que, num vídeo, demonstrou o quanto gosta de aves e de fotografia. “Passarinhar é uma atividade em que você observa as aves, você vê o passarinho e fotografa ele. [...] Você pode ouvi-los cantando na mata, você pode identificar”, descreve o morador de Ilha Grande (RJ), Joaquim Luiz de Barros, já capaz de identificar espécies da fauna só de ver uma imagem e tem um carinho especial pelos animaizinhos.
Do seu jeito, o menino é um filósofo, menos no sentido em que os ditos “pensadores” gostam de se apresentar, mais do jeito popular de quem “leva a vida numa boa” e tem prazer em pensar sobre ela. Seu hobby é acompanhar o pai, seu Jorge, tendo na mão não um estilingue, mas uma câmera fotográfica. Em espaços abertos, utilizando os sentidos, faz o que deveria ser direito de todas as crianças: uma experiência de mergulho na Natureza. Qualquer educador vai dizer que isto é de fundamental importância.
Pais que propiciam este contato – caso do Joaquim, que
até aprendeu a engatinhar na areia - sabem do ganho emocional e afetivo, quando
a criança ao invés de se enclausurar dentro de casa, cercada pelas babás
eletrônicas, fica ansiando pelo bom tempo em que possa estar na rua. Com um
canal no YouTube para comentar suas descobertas, reforça seu gosto por livros
sobre pássaros e jogos de memória com muitas espécies para montar. Desta forma,
pode parecer um passatempo bem caro, mas depende...
De fato, não somos uma civilização que tenha como
preocupação preservar as demais espécies. Enquanto nos servem, tudo bem.
Senão... Durante o Inverno, somente via pássaros e outros pequenos animais
pelas regiões mais descampadas por onde caminhava. Ali pude testemunhar a revoada
de Quero-Queros e, surpresa, fui privilegiado em ver, na divisa entre o bairro
Quartier e Quinta do Lago, uma família de Preás. Mas é Primavera e agora vem
uma época em que mais pássaros aparecem.
Observá-los é o que se chama de “passarinhar”. Atividade
que vem crescendo, atraindo pessoas de diferentes idades. Já não precisa ser
com câmeras sofisticadas ou binóculos potentes, mas até um celular com aumento
no zoom. Claro que os mais aficionados saem à procura de matas onde exista um
maior número de espécies. Porém, se tiver paciência, pode ser que apareça um Sabiá,
um João de Barro, um Quero-Quero, um Anu... Alguns tipos que eram comuns pelos
nossos banhados e descampados.
Observar e admirar possibilitam a reflexão e compreensão
de que fazemos parte de um todo. Os pássaros ensinam a alçar voos... Também se
pode, em noites claras, voltar os olhos para os céus, contemplar a Lua e as
estrelas e mirar o Infinito... Ou, simplesmente, na rua, se encantar com uma
criança, uma mulher grávida, um casal de namorados, um idoso, gestos de carinho
em família... “Passarinhar” é a imersão no grande universo da vida – que não
tem preço - e na missão que a humanidade recebeu de preservá-la!
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