O problema com as palavras é saber quando se prestam para teorizar ou designar práticas. Mesmo que se possa dizer que, muitas vezes, "na prática a teoria é outra" é a coerência entre elas que define o valor em si, a credibilidade de quem diz e anuncia. A máxima de que a primeira morte num confronto bélico é a da verdade já se consagrou e sangra nos primeiros relatos dos campos de confrontos. A população fica refém de outra guerra: a das narrativas, hoje, um dos grandes trunfos políticos nas relações públicas.
Embora seja momento de salvar vidas (e todas elas!), impossível fugir de uma reflexão necessária a respeito do elemento mais delicado em qualquer escaramuça em que se envolve política/ideologia/economia: a necessidade de buscar a Paz. Não se iluda. Muita gente, em silêncio, trabalha contra a Paz pelos mesmos interesses já citados. Os discursos de representantes nas Nações Unidas nem sempre são ecos das práticas de seus mandatários, mas narrativas para vender imagem num cenário internacional.
A cultura de hoje não é a da Paz, mas uma cultura da violência. A Paz é bênção,
dádiva que precisa ser conquistada e cultivada pela consciência social,
especialmente das novas gerações. Tem que ser construída como parte de um
espírito de tolerância, aberto para aceitar e respeitar o diferente.
Infelizmente, tem razão quem disse que as vítimas da guerra são jovens e a
população civil que não se conhecem e morrem enquanto mais velhos que se odeiam
ficam a uma distância segura articulando seus jogos de interesses.
Não há inocentes na guerra. Aliás, os únicos inocentes são estas mesmas
populações colocadas nos frontes. Narrativas capciosas derramam combustível no discurso
de ódio, que repercute nos meios de comunicação. Ali também se faz guerra: de
versões, manipulando conteúdos, desde a informação por texto, áudio, imagens
fotográficas e de vídeo. O confronto nunca é o primeiro “round”, mas o fruto de
um preparo que se dá no campo dos arsenais bélicos, assim como o da palavra
travestida com dúbio sentido...
Paz deveria rimar com justiça. Homens e mulheres, de ambos os lados das
fronteiras, querem apenas o direito de viver e dar dignidade às famílias. Não
importa sua crença, opção ideológica, cor, raça, sexo... A esperança foi
atropelada na virada do século quando se acreditava que a intolerância tinha
sido colocada sob controle. Porém, na maior parte das vezes, o grande problema
não se encontra nas religiões ou em partidos, mas naqueles e naquelas que são
fundamentalistas e se negam ao diálogo elementar.
A Paz é elemento frágil muitas vezes descartada nas narrativas oficiais.
Porque querem vencer etapas na conquista de posições estratégicas, criticam-se
os que se esforçam para estancar esta sangria. Assim como, muitas vezes, se
julga que pessoas que defendem o congraçamento e a integração sejam apenas (e
porque não?) sonhadores. Definir a Paz é como tentar definir o amor, não há
palavras suficientes, porque demanda, para além do espírito de uma suposta
racionalidade, o empenho pela justa solidariedade...
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