Relembrando artigos já publicados
Um programa de rádio colocou
em pauta a influência que a televisão exerce sobre a formação da criança. Os
convidados foram professores da Psicologia e da Comunicação, numa discussão que
poderia resultar em diversos outros programas, já que lida com um dos dilemas
mais candentes da sociedade, atualmente.
Em quase duas horas, a
conversa foi por diversos caminhos, desde a chamada “babá eletrônica”, as
condições para a classificação por horários, para restringir o acesso das
crianças (a antiga censura, com a dúvida se, deixando para mais tarde, quem,
hoje, dorme mais cedo: adultos ou crianças?) e uma questão sempre presente,
discutida e que sempre dá muito pano para manga: a violência.
Mas dois elementos chamaram a
atenção.
O professor Paulo Luiz lembrou a necessidade que a criança tem de ser estimulada com o “olho no olho”, do
qual é privada quando fica em casa entregue a alguma pessoa paga para um
serviço, ou quando, simplesmente, fica reclusa em companhia de irmãos.
Duas reportagens
vieram à minha memória: um jornal da capital fez duas matérias marcantes. Na
primeira, levou para espaços públicos quatro figuras em destaque nos meios
esportivos, da comunicação, uma ex-miss Brasil e um músico, para trabalhar na
limpeza das ruas. Na outra, um repórter, em Caxias do Sul, vestido de mendigo,
percorreu a cidade e passou dois dias dormindo numa praça central (registre-se
que esta experiência não é nova: Deogar Soares já fez trabalho semelhante há
cerca de 30 anos, em Pelotas). O que mais impressionou a todos: o fato de que
as pessoas não os olhavam. Um deles registrou que “era como se não existisse”.
No outro caso, ao final do
programa, foi registrado o problema social que é, hoje, nas famílias de baixa
renda, com o pai desempregado, muitas mães terem que ir à luta para conseguir
meios de subsistência. As crianças ficam em casa, em muitos casos sob os
cuidados de um irmão ou irmã mais velha, que faz diversos trabalhos: cuida da
casa, dos irmãos e, ainda cozinha (estão para aparecer números confiáveis que
nos mostrem quantos acidentes acontecem em casa, fruto desta “mão de obra”
desqualificada, mas necessária).
Infelizmente, estamos
aumentando nossa dívida social. Uma dívida que não poderá ser paga por diversas
gerações, pois necessário reverter um quadro que foi construído ao longo de
décadas. Há uma população que migrou para a clandestinidade social, onde o
número de crianças é muito elevado e encontra-se carente das mais elementares
condições de sobrevivência e, também, de um olhar que lhes garanta uma identidade
como ser humano.
Mas, confesso, impressionou-me
a questão do olhar. Talvez seja, em muitos momentos, a única forma de carinho
que se pode dar, estimular, ou de mostrar compreensão e cumplicidade. Quem
sabe, até, todas, ao mesmo tempo.
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