Andar, pela manhã, por minha rua, é o encontro do passado e do futuro. Pelas calçadas, vou encontrando os antigos moradores e ainda se fala do tempo, de doenças, de vivências comunitárias. Ao mesmo tempo, a antiga estrada da Silveira convive com novos condomínios de casas e apartamentos, sendo necessário todo o cuidado para atravessar as ruas.
Entre o silêncio das noites de poucos anos atrás, hoje há o buliço de veículos que transitam ao longo de todo o dia... E também da noite. Lembro que fiquei chocado quando, pela primeira vez, em Porto Alegre, presenciei um engarrafamento. Já não foi do mesmo jeito quando, recentemente, em algumas avenidas principais de Pelotas o mesmo começou a acontecer em horários de pique. Mas foi hilário ver a tranqueira que começou a acontecer na minha própria rua!
Neste espaço onde sobrevivo e ajudo minha mãe a sobreviver, ainda há um senso de vizinhança que faz a gente almoçar juntos, estranhar que determinados amigos não apareçam durante algum tempo ou sentir falta daqueles que se fazem ausentes.
Embora a geografia e a paisagem não sejam mais as mesmas, há um sentimento de pertencer a um lugar, raízes que se estabelecem não por nascimento, mas por criação e opção de ser vileiro. Lembro de um dos últimos momentos em que encontrei seu Udo, falecido recentemente, em que ele me disse que daqui não sairia, de jeito nenhum. Tinha passado a vida aqui e aqui pretendia terminar.
Brincava com um amigo que, daqui, somente queria como última morada o cemitério. Ele respondeu prontamente: "não seja o problema, faço a tua cremação e, depois, de avião, atiro as cinzas sobre a Silveira". Boa ideia, mas, afora o Google Earth (onde se pode ver regiões a partir de fotos de satélites), não tive o privilégio de ver minha vila de cima. Quem sabe minhas cinzas a verão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário