Têm questões relacionando jornalismo e literatura que são bem interessantes. Numa recente discussão, um literato disse que nós, do jornalismo, conseguimos notícias tão chocantes e inusitadas, que nem o maior ficcionista conseguiria criar. A imaginação não atinge aquilo que a realidade do dia a dia registra.
Pois é o caso do juiz Paulo Moreira Lima, que estava à frente de um dos julgamentos do contraventor Carlinhos Cachoeira, que vem tirando do túmulo muitos escândalos envolvendo o governo federal e o Congresso Nacional, por enquanto - outros ainda podem ser envolvidos. O referido foi ameaçado e, sentindo que estava ao alcance das máfias que circundam a capital federal, preferiu se afastar do caso para preservar a própria vida.
Ao menos duas questões se levantam. A primeira, se um juiz que recebe altíssimo salário e tem toda a estrutura da segurança à sua disposição não se sente seguro, quem mais vai se sentir? A segunda é exatamente a sua consequência: os juízes não são pagos - e bem pagos - exatamente para poderem confrontar com este tipo de caso?
Infelizmente, as garras dos grupos criminosos organizados no Brasil tomam corpo e começam a "ocupar" o próprio tecido social. Recentemente, uma reportagem flagrou o financiamento do crime organizado para jovens que, ingressando em diversos cursos superiores de seu interesse, pudessem, num futuro, fazer carreira, inclusive na magistratura!
Nossas instituições apodreceram. Embora tenhamos homens e mulheres querendo fazer da política algo sério e honesto, há muitos e variados dutos que desviam recursos e enriquecem aqueles que estão envolvidos nos três poderes. Recentemente, tive que ouvir calado, que ex-presidentes da ditadura militar e seus ministros tiveram o final de suas vidas em dificuldades financeiras, mas que os "novos políticos", teoricamente mais próximos da sociedade, tinham seus patrimônios aumentados significativamente.
Para que possamos "curar" a sociedade, o primeiro passo é reconhecer que estamos doentes. Indicadores econômicos podem ser muito interessante para economistas. Mas, na prática, no dia a dia, interessa para uma sociedade saudável um maior número de pessoas honestas vendo a máquina do governo funcionando a seu favor. De outra forma, é um triste país o que vivemos.
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