Em muitas áreas do conhecimento
humano – sociologia, política, religião – seguidamente se fala em “dignidade
humana”. Conceito amplamente difundido é o de que as pessoas têm direito à sua
autonomia e o respeito para que exerçam o poder de decisão naquilo que não
prejudica a outros. Embora a teoria seja interessante, como em todos os grandes
temas, o problema acaba sendo a prática.
Falar em dignidade humana para
classes mais abastadas é diferente de falar para pessoas em situação de pobreza.
Para os primeiros, há conceitos filosóficos e opções ideológicas decididos em
mesas faustas ou ambientes climatizados. Para o segundo grupo, o direito de
trabalho, alimento à mesa, ensino, tratamento médico, lugar para viver.
Há dois anos, acompanho meus pais
no seu processo de envelhecimento. Meu pai declarou câncer em maio de 2010 e, a
partir dali, tomamos lições do quanto a vida pede em troca, quando, sobreviver,
não é apenas um ato pessoal, mas precisa ser compartilhado. Depois da partida
do pai, o processo continuou com a mãe, na busca por uma vida digna que inclua
cuidadores e o direito a fazer opções.
Amigos falam da forma como
tratamos os dois casos e ficam claras algumas coisas: quando olho nos seus
olhos e explico em detalhes o que estou servindo em seu prato, não estou
determinando um cardápio, mas estimulando a que tenham prazer em estar à mesa.
Quando dou a mão para que possam andar, não estou direcionando seus passos,
mas, sim, que possam tomar seus próprios caminhos e ir mais longe. Quando cobro
das pessoas para que não façam as coisas por eles, não é para negar algo, mas
sim para que seus pequenos esforços estimulem corpo e mente a superar as
próprias limitações.
A dignidade para envelhecer não
está apenas em acompanhar um idoso, mas buscar uma cultura onde, num futuro, o
mesmo possa acontecer conosco. Cercear liberdade é o mesmo que matar alguém,
aos poucos, em vida. Acompanhar pequenas fraquezas e tentar superá-las é
usufruir do prazer que a vida dá em sermos interdependentes e de que cada
pequeno ato vale a pena quando os passos andam juntos. E na mesma direção.
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