Artigo: um de meus artigos que teve muita reflexão, especialmente entre religiosos.
O profissional à minha frente
parecia carregar o peso da humanidade. No entanto, tinha um problema bastante
comum: cansara do discurso para o qual fora treinado. E cada vez que falava,
sentia-se vazio, como quem está enganando o público para o qual está falando. E
enganando muito mal, porque incapaz de convencer-se, consequentemente, de
convencê-lo.
Nos cursos e palestras que
realizo, em Comunicação, acaba-se chegando a uma triste constatação: estamos
empobrecendo o elemento mais importante, fundamental, do processo comunicativo:
a palavra.
Repetida burocraticamente, a
palavra passa a ser, apenas, dita à exaustão, desgastando seu sentido e
tornando-se muito próxima de um mero ato mecânico. E este não consegue fazer
com que se “des cubra” (no sentido de retirar o véu que a preserva) e se possa
saborear plenamente o seu sentido. Para um determinado tipo de situação, a
“fórmula” já está pronta, é chavão, e vem envolta em algum sorriso, cara
compungida ou feição que nada demonstra, esperando que resulte num efeito
previamente estabelecido.
Vejo que isto acontece com
alguma frequência entre aqueles que precisam utilizar o discurso religioso. A
pura repetição de um ato não o transforma em rito, mas atende apenas a um
suposto “tratado” com Deus: a “soma” de determinadas ações deveria resultar no
“produto” esperado. Este é um ledo engano: o rito tem seu valor em si. Não
precisa de pregações alongadas, entediantes e, muitas vezes, desestruturadas,
juntando elementos que vêm à cabeça do pregador, que alonga seu discurso por um
único motivo: como não sabe por onde iniciou e por onde andou, também não sabe
como terminar.
Triste e maltrapilho desejo!
Em muitos momentos, acredito ser necessário “rezar pelo Espírito Santo” e não
“rezar ao Espírito Santo”. Explico: a mesma crise de identidade no encontro do
sentido das palavras faz com que se abuse do ato de pedir ao Espírito Santo
para que faça uso de seus atributos. Um dos principais: a inspiração. Coitado
do Espírito Santo! Um “burocrata do Senhor” que não consegue fazer ao menos a
sua tarefa básica, que é a de preparar-se para a liderança, não deveria ter o
direito de chegar a esta instância.
Então, qual é a solução. Para
quem crê, é simples: a oração. E para quem não crê? Também é simples: o
silêncio. O silêncio precisa antecipar a palavra para poder dar-lhe substância
e sentido. É assim que se evita encorpar aqueles vazios que vão ficando quando
a repetição se torna rotina; o improviso, a regra; e a manipulação dos sentidos
o caminho mais fácil para o fim de uma carreira de comunicador, seja ele
religioso ou não.
Em cada uma das atividades,
torna-se fundamental incorporar espaços de sanidade mental. São aqueles
momentos em que podemos nos recolher ao silêncio e ordenar nossos
conhecimentos, sentimentos e, mesmo, rezar. O que mais impressiona é que somos
capazes de elencar dezenas de argumentos para não encontrarmos estes momentos.
Eles parecem supérfluos diante de rotinas preestabelecidas em que somos
tragados pela avalanche de ações que são “urgentemente necessárias”, em nosso
grupo familiar, atividade profissional, educativa ou, até mesmo, religioso.
Paciência. Conheço
profissionais que enfrentaram a crise diante da palavra e entraram em
desespero. Até silenciar e abrir o coração para a reflexão, a meditação e a
oração, é um longo caminho, para o qual não existem fórmulas prontas. Cada qual
tem que encontrar o seu. Mas ele precisa ser iniciado: com um inquietante
momento de silêncio.
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