Minhas lembranças de infância guardam resquícios de sons e de cheiros. A manhã iniciava na madrugada, quando o padeiro batia palmas ao lado da casa, deixando o saco de pão, às cinco e meia, com o cheiro de pão novo entrando pela janela. Em seguida, meu pai levantava para abrir o armazém às seis horas, já com gente esperando na porta para comprar os ingredientes do café.
Na sequência, minha mãe levantava e começava as lides da casa, mais a preparação de alimentos para serem comercializados no armazém: eram cheiros os mais variados: ovos sendo cozidos, rapadurinhas sendo preparadas, fatias de bolos sendo cortadas. E, nos finais de semana de frio, o cheiro e o bater no tacho que preparava o mocotó.
Fui aprendendo, na prática, que "por traz de um grande homem, há sempre uma grande mulher". Considero meu pai uma referência, mas - embora nossos gênios em muito momentos tenham sido incompatíveis - aprendi o quanto era difícil para minha mãe ter embarcado naquela aventura de sair do interior - próximo de sua família - para vir tentar um mundo novo para os seus, então, três filhos.
Fugindo das agruras de uma vida difícil na roça, restava buscar na periferia da cidade as oportunidades de trabalho e de dar aos filhos uma educação que sonhavam juntos. Infelizmente, dois filhos morreram neste caminho, chegou mais uma e, hoje, dona França alcança seus 87 anos com uma serenidade que, eu, gostaria de ter ao chegar ao final de minha vida. Cumpriu seu papel, mas não abre mão de conviver com as pessoas. Embora o corpo nem sempre ajude, mantém-se lúcida, bem humorada e abençoadamente feliz.
Superamos, juntos, muitas perdas. Elas sempre nos aproximaram e nos renderam muitas lições: a principal delas é que mãe é mãe. Não precisa ser mais nada do que isto: gerou uma ou mais vida e tentou indicar caminhos. Como na terra, ao se plantar, resta acarinhar e regar, de resto, cada um tem que decidir os seus caminhos.
Hoje, tenho carinho pelas mães que estão presentes, mas também tenho por aquelas que nos deixaram saudades. Que este domingo seja o momento de relembrarmos ou revivermos momentos bons da convivência e a certeza de que mãe, na verdade, é um pouco da presença de Deus em nosso meio.
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