No meu último texto sobre os ruídos da noite, esqueci de um: o barulho do caminhão do seu Udo, nas madrugadas de segunda-feira, quando esquentava o motor para seguir com carga para Porto Alegre. Não era um incômodo, na verdade, era um jeito de saber que alguém começava a trabalhar, que o dia iniciava e que se tinha mais uma semana pela frente.
Três foram as lembranças que ficaram do seu Udo depois que, hoje pela manhã, soube da sua morte por um ataque do coração. Além desta, ainda o espírito brincalhão de quem conversava com praticamente todas as pessoas na rua. Passei pela casa, em direção à padaria, e ele estava consertando o telhado, com a dona Gisela (esposa) e o Dico (vizinho) olhando. Perguntei se eram ajudantes. Respondeu que não, que só estavam atrapalhando.
Da outra vez, voltava do mercadinho quando ele estacionava o caminhão do outro lado, olhei diversas vezes, mas ele não me viu. Foi a última chance de lhe dar um olá.
Foi-se um bom vizinho. Embora nossa rua tenha passado recentemente por muitos incômodos causados pela omissão de serviços públicos, ele sempre dizia que aqui era o seu lugar e não pretendia se mudar.
Andar vagaroso, fala calma, olhar tranquilo, um daqueles alemães que tinha alegria em ajudar os vizinhos, pelo simples prazer de fazer bem às pessoas. Na galeria daqueles que vão fazer falta, está gravado mais um nome: seu Udo. Creio que a Vila Silveira já tem, lá em cima, um número suficiente de moradores que estão criando uma nova vila. Talvez seja a chance da gente reiniciar tudo aquilo que sonhamos para a nossa vila terrena.
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