Sou da geração que fez a transposição entre o uso do tamanco - normalmente feito de madeira e couro - e o chinelo de dedo. Neste meio tempo, muita coisa aconteceu, para o bem e para o mal. Lembro de um amigo que contava terem sido assaltados em casa e que ninguém ouviu nada porque o ladrão usava chinelos de dedo, então uma novidade, não sendo ouvido.
Não creio que alguém vá tomar esta transformação como símbolo das mudanças que aconteceram nestas últimas décadas, desde a tecnologia até os costumes. Poderíamos lembrar outras: das novelas de rádio para as novelas de televisão; da máquina de escrever para o computador; das viagens apenas sonhadas, para aquelas que hoje se realizam com certa facilidade.
E, me parece, o que mudou foi isto: a facilidade de acesso a certas coisas que, no passado, eram somente acarinhadas como projetos próximos do inexequível.
A questão é a qualidade que se dá ao processo. Vejamos o caso da Universidade. Hoje, temos "pechinchas" que saem de pouco mais do que cem reais para um curso de terceiro grau. A pergunta que não quer calar é: prepara para quê? Em alguns casos, acaba sendo apenas a satisfação de ter um canudo universitário.
Entre a tamanca e o chinelo, ainda temos um longo caminho a percorrer, especialmente no processo de educação, que é um ato solidário entre família, educadores e sociedade. Sendo verdade que estamos melhorando, enquanto Brasil, nos índices econômicos, o próximo passo tem que ser qualificar as pessoas para que, mais do que consumir, possam se realizar no convívio do dia a dia, superando a pequenez de olhar apenas a volta do próprio umbigo e se voltar para índices que nos satisfaçam em áreas como a saúde, segurança, moradia, cultura, diversão...
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