Da série de já publicados, já com saudades da Primavera.
Os primeiros raios de sol
foram precedidos pelo cantar dos pássaros que procuram alimento no arvoredo.
Marca certeira de que a estação do frio está chegando ao fim, já que se
depositam os primeiros brotos nas árvores que, até então, estavam desnudas.
Os ruídos da madrugada sempre
se transformam num ritual que prepara a chegada do dia.
A vida chega quando se percebe
o ruído das primeiras bicicletas com operários que vão para o trabalho; as
primeiras charretes que transportam feiristas, os primeiros estudantes
buliçosos comentando o que passaram no dia anterior; o primeiro guincho do
ônibus que para e recolhe os passageiros.
Gosto muito do frio do
inverno, com seu aconchego e aquele manto encobrindo a cidade, aproximando as
pessoas. Mas fico ouvindo, durante a noite, e sinto falta daqueles sons de
pequenos animais que grasnam próximo da sanga, ou que circulam em meio ao
espaço verde que ainda sobrevive frente à minha casa.
Quando acordo, em meio à
noite, os ruídos que vêm da natureza presente em volta dão o ritmo da vida que
me faz voltar a dormir. Com a certeza tranquila de que tudo está bem.
Não são simples ruídos – que
não passam de barulhos, mas sinais de vida que, ausentes, deixam a sensação de
que estamos absolutamente incompletos.
Não há como viver sem algumas
coisas que nos parecem óbvias, mas que, na sua falta, vão nos deixando com a
impressão de que as perdas se tornam irreparáveis e encaminhadoras do fim. E
não são somente os ruídos da noite: de igual forma o primeiro ar fresco da
manhã, quando abrimos a janela; o sol que nos faz cerrar os olhos, mas que
afaga o rosto; o sereno que se deposita por sobre as plantas, o abanar
espontâneo de quem acordou e levantou mais cedo.
A vida, em todos os sentidos,
dos seres que nos cercam e que, muitas vezes, dos quais somente ouvimos o som
de calçados no asfalto da rua. Mas que dão a sensação de que alguém está por
perto, dando segurança de que podemos voltar ao nosso sono, envoltos na noite e
em seus sons. Admiravelmente silenciosos.
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