Relembrando: crônica do livro "Remendos e Arranjos".
Sempre tive fixação em
escrever sobre as mãos. Elas me encantam por aquilo que fazem e pela autonomia
que, às vezes, tomam a si, deixando-nos, verdadeiramente, desnorteados.
Gosto de descrevê-las saindo
da sua atitude concreta e substituindo a visão. Especialmente, quando,
percorrendo um corpo, por exemplo, tornam as sensações mais, literalmente, -
desculpem a redundância - palpáveis.
É possível que, para os
grandes da literatura, este seja um tema considerado pobre, ou menor. Tanto já se falou a
respeito de mãos, seja da mãe, da amante, do trabalhador, do escultor, que fica
difícil um novo ângulo para visualizá-las.
Mas tente, ao menos uma vez,
fechar os olhos e deixar levar-se pelas mãos. E, aqui, não é no sentido
literal. É físico, mesmo. Primeiro, feche os olhos. Respire fundo. Feche e abra
as mãos, muitas vezes.
Bem, é o momento em que se
abrem dois caminhos: ou você faz a experiência sozinho, ou estará acompanhado
(óbvio, não é?).
Primeiro, afirmo que, em
qualquer situação, não se arrependerá. As mãos, soltas no ar, são capazes de
reger, chamar, xingar, dar adeus, conterem uma lágrima, esconder um rosto.
Mas tem o outro lado. Se,
então, você tiver parceria, a experiência é ainda mais rica. Explorar um corpo
é como redescobrir sensações.Você não vê, mas faz, quase, um processo místico,
porque vai além. Tem um frenesi em cada linha que explora. Sente-se estimulado
pelas emoções que são, gradativamente, despertadas.
E se suas mãos, ao percorrer
um rosto, encontrarem duas lágrimas, despertarão em seu corpo frêmitos de um
impulso indomável.
A necessidade, pura e simples,
de se dar e receber transformará um momento em eternidade. E a eternidade não
terá graça se não for composta de momentos em que se possam utilizar as mãos.
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