Quarta história da saga O Aprendiz e o Mestre, do meu livro Remendos e Arranjos.
O garoto estava na estrada,
diante do mosteiro. E a estrada levava às montanhas, onde o sol deveria
desaparecer. Avançava um pouco e parava. Mais um pouco. Um pouco mais. Cansou e
voltou-se para o Mestre.
- Mestre, porque não consigo
alcançar o horizonte?
Um sorriso e um pedido como
resposta:
- Podes esperar mais um pouco?
- Claro.
As horas iam passando e o
garoto tornou-se impaciente.
- Quanto tempo mais?
Sem medir o tempo, o Mestre
estimulou:
- Só mais um pouco.
Foi quando a tarde chegou
próxima da noite e executou o ritual do pôr de sol. O Mestre segurou a mão do
garoto e pediu que ele, em silêncio, acompanhasse a trajetória do sol. Já na
penumbra, o menino perguntou baixinho:
- E se eu caminhasse, agora,
poderia ver de novo o pôr de sol?
O Mestre lembrou de um Pequeno
Príncipe que morava num pequeno planeta que, quando estava triste, somente
arrastava sua cadeira para trás e via quantas vezes quisesse o sol se pôr.
- É difícil, mas não é
necessário.
- Porque?
- Porque o que você quer mesmo
é alcançar o horizonte.
- E se eu chegar ao horizonte,
poderei ver o sol se por quantas vezes quiser?
- Não. Mas verá que alcançar o
horizonte fará com que ele fique sem graça.
- Não entendi.
- O horizonte só tem sentido
se, no seu dia a dia, você o jogar para mais longe.
- Como assim?
- É como se você quisesse
muito alguma coisa. Quando a consegue, sente que já quer algo mais. E o algo
mais é o horizonte. Ele sempre está ao alcance de suas mãos. Mas, ao mesmo
tempo, tão longe de você.
- Ah, bom. Então eu não devo
caminhar pela estrada para encontrar o horizonte?
- Você deve caminhar pela
estrada, não para encontrar o horizonte, mas para construir o seu horizonte.
- Entendi. Então é como o
professor que ajuda o aluno a conhecer, pois mostra o que já viu no horizonte e
o aprendiz pode ver ainda mais longe se for capaz de encontrar os seus próprios
caminhos?
No silêncio da noite em que as
estrelas luziam no firmamento, os olhos do Mestre também se acenderam.
- Entendeu, mesmo. Você poderá
ser um bom mestre, algum dia. Um bom mestre. Agora, só precisa gostar de um
banho de chuva.
- Para quê? Eu nem gosto de
banhos!!!
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