sábado, 10 de março de 2012

Desbravando horizontes


Quarta história da saga O Aprendiz e o Mestre, do meu livro Remendos e Arranjos.

O garoto estava na estrada, diante do mosteiro. E a estrada levava às montanhas, onde o sol deveria desaparecer. Avançava um pouco e parava. Mais um pouco. Um pouco mais. Cansou e voltou-se para o Mestre.
- Mestre, porque não consigo alcançar o horizonte?
Um sorriso e um pedido como resposta:
- Podes esperar mais um pouco?
- Claro.
As horas iam passando e o garoto tornou-se impaciente.
- Quanto tempo mais?
Sem medir o tempo, o Mestre estimulou:
- Só mais um pouco.
Foi quando a tarde chegou próxima da noite e executou o ritual do pôr de sol. O Mestre segurou a mão do garoto e pediu que ele, em silêncio, acompanhasse a trajetória do sol. Já na penumbra, o menino perguntou baixinho:
- E se eu caminhasse, agora, poderia ver de novo o pôr de sol?
O Mestre lembrou de um Pequeno Príncipe que morava num pequeno planeta que, quando estava triste, somente arrastava sua cadeira para trás e via quantas vezes quisesse o sol se pôr.
- É difícil, mas não é necessário.
- Porque?
- Porque o que você quer mesmo é alcançar o horizonte.
- E se eu chegar ao horizonte, poderei ver o sol se por quantas vezes quiser?
- Não. Mas verá que alcançar o horizonte fará com que ele fique sem graça.
- Não entendi.
- O horizonte só tem sentido se, no seu dia a dia, você o jogar para mais longe.
- Como assim?
- É como se você quisesse muito alguma coisa. Quando a consegue, sente que já quer algo mais. E o algo mais é o horizonte. Ele sempre está ao alcance de suas mãos. Mas, ao mesmo tempo, tão longe de você.
- Ah, bom. Então eu não devo caminhar pela estrada para encontrar o horizonte?
- Você deve caminhar pela estrada, não para encontrar o horizonte, mas para construir o seu horizonte.
- Entendi. Então é como o professor que ajuda o aluno a conhecer, pois mostra o que já viu no horizonte e o aprendiz pode ver ainda mais longe se for capaz de encontrar os seus próprios caminhos?
No silêncio da noite em que as estrelas luziam no firmamento, os olhos do Mestre também se acenderam.
- Entendeu, mesmo. Você poderá ser um bom mestre, algum dia. Um bom mestre. Agora, só precisa gostar de um banho de chuva.
- Para quê? Eu nem gosto de banhos!!!

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