Do meu livro Remendos e Arranjos.
Meu pai podou um pé de
manjericão, que sobrevivia, garboso, no fundo do pátio. Como num lamento
dolorido, seu perfume expandiu-se, entrou pela sacada e veio morrer ao meu
lado, numa súplica angustiada pela vida.
Tenho dificuldade de entender
o processo da natureza em que, ao mesmo tempo, lamenta uma poda e, com a mesma,
se renova e se prepara para novos talos, novas folhas, novas flores.
O perfume, que encantou muitas
das minhas noites, é o mesmo que, agora, agride, incapaz (ou serei eu que não o
entendo?) de aceitar podar uma parte de si mesmo.
Sinto-me semelhante ao
manjericão, quando me apego a cada uma das coisas que construí, cada um dos
seres que amei, cada espaço da vida que conquistei.
A incapacidade de aceitar a
poda atrofia a capacidade regenerativa de, a cada perda, buscar o novo,
renascer do sofrimento.
Sofre-se mais quando a vida
nos fecha um caminho, nos priva da convivência de alguém, ou quando um arbusto
perde um galho?
As perdas acabam deixando
feridas. Mesmo cicatrizadas, detém a história de um instante insubstituível.
São as mesmas perdas que nos
levam a sorrir, com o passar do tempo, de forma diferente. Sorrimos, com o peso
de quem já carrega seus mortos “no lado esquerdo do peito”, como dizia Mário
Quintana. Estamos mais cansados, e precisamos aceitar que, a não podar,
atrofiam-se os galhos e o fim chega mais cedo.
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