O Aprendiz tinha um jeito todo
peculiar de fazer saber, ao Mestre, que ele estava com alguma preocupação.
Passava a caminhar à volta da mesa onde seu orientador trabalhava, em silêncio,
com a cabeça baixa e as mãos atrás das costas.
Até que, num determinado
momento, o Mestre parasse com seu trabalho e perguntasse:
- Pequeno menino, o que o está
preocupando?
Sempre fazia um certo charme.
- Nada, Mestre, nada que o
deva preocupar.
E a insistência.
- Fale, pequeno menino. Algo o
preocupa. Sei que você gostaria de perguntar.
Parou de caminhar, colocou-se
em frente do Mestre e, mais do que dizer, sussurrou:
- Mestre, como é ter um pai?
Embora aguardasse toda e
qualquer pergunta, para esta, especificamente, o Mestre não estava preparado.
Levou em consideração que o menino fora abandonado na porta do Mosteiro e nunca
soubera o que era ter uma família.
- Porque esta preocupação,
pequeno menino?
- É que está chegando o Dia
dos Pais e as demais crianças falam muito do que vão fazer para eles. É verdade
que eu não tenho um?
Já sabia que abrandar a
verdade nunca dava certo com aquele garoto. Preferiu ser direto.
- É verdade. Você não tem um
pai como os demais meninos.
- E como é ter um pai?
Embora se sentindo incomodado,
sabia que tinha que dizer alguma coisa.
- Pequeno menino, ter um pai é
uma bênção. Mas também é uma bênção ter um filho. O pai acorda no meio da noite
e procura a mãozinha do filho, sua respiração. Quando ele cresce, ouve seus
balbucios, acompanha seus primeiros passos desengonçados. Quando se torna
jovem, é o ombro amigo aonde vai se acomodar quando precisa. E sempre, mas
sempre mesmo, é um olhar cúmplice e amigo com o qual pode contar. Infelizmente,
você não tem um pai.
Os olhos do menino estavam
marejados de lágrimas. Contornou a mesa, apoiou sua cabeça no peito do Mestre e
sussurrou novamente:
- Engano seu, Mestre querido,
tenho no senhor o melhor dos pais. O senhor faz tudo isto comigo!
A cabeça do menino pendida
sobre seu peito impedia de ver que as lágrimas também corriam pelo rosto do
ancião. Era a revelação de Deus que lhe faltava: sempre se sentira estéril por
não ter tido filhos. E Deus colocara em suas mãos muitos, mas muitos filhos
para criar. Agora sabia que fora capaz de fazer cada uma daquelas coisas que
sempre pregara para os outros. Murmurou uma oração e beijou a cabeça do pequeno
menino. Sentia-se pai. E pai tem que fazer a vida continuar, alimentando a
esperança do filho, carne ou não do seu ser, que Deus colocara em suas mãos.
Mas era preciso desbravar
horizontes. E mostrar o caminho para aqueles aprendizes que começavam a
chegar para a oração.
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