Na proximidade da Semana Santa,
sempre me fascina o fato de que Jesus, ao entrar em Jerusalém, produz um dos
maiores contrapontos da História: entra montado num jumento, com uma coroa
feita de ramos de árvore, tendo como chão os mantos de seus seguidores e
admiradores.
Numa cidade dominada pelos
romanos, é como se apontasse o dedo e dissesse: “vocês dominam pela força e
pelo poder, eu vos ofereço a minha vida!” Para quem não lembra, os dominadores
eram especialistas em cavalos, que transformaram em máquinas de guerra,
vestindo-se de roupas faustosas (especialmente no uso do vermelho), usando
muito metal, e seus administradores usavam e abusavam do ouro e de pedrarias de
grande valor.
O Nazareno fez um dos maiores de
seus discursos sem usar uma palavra: chateado porque os judeus não queriam
ouvi-los e já planejavam a sua morte, marcou com um sinal a triunfante entrada
na capital política e religiosa, sem que se tenha informação que houvesse, ao
final, feito qualquer manifestação pública àqueles que estavam na cidade,
vindos de muitas partes do Mundo conhecido de então.
As comparações são inevitáveis: o
Filho de Deus anda num jumento, simples, às vezes teimoso, enquanto os
dominadores cavalgam em imponentes corcéis; Jesus usa uma coroa capaz de se
decompor em pouco tempo, enquanto aqueles que tramavam sua morte usam pedras
preciosas; O Filho da Luz tem entre seus seguidores homens simples, na maior
parte sem instrução formal, mas que estão transbordantes em espírito, enquanto
romanos e a casta dominante de seu país tramam nos bastidores e se asfixiam no
medo de um Messias que pode fazê-los perder o único “bem” religioso e político
que conhecem: o poder.
Jesus já não mais falará às
multidões. Seu último discurso será para seus mais íntimos na Quinta Feira
Santa. Embora os sinais que se dão naqueles três últimos dias sejam muito
fortes, fica sempre aquela referência, ao mesmo tempo jocosa e irônica: até o
último momento, Deus não quer os sinais exteriores que demonstram a fé, mas,
sim, a conversão de espírito. Aqueles que, em qualquer momento, não têm receio
de parecer ridículo montando um burrinho, usando uma coroa de folhas,
acompanhado dos mais simples, mas mirando a nova Jerusalém: na paz de quem, na
Páscoa, passa pela morte e consagra a ressurreição.
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