Eu tinha em torno de cinco anos quando fui apresentado ao mundo do Jogo do Bicho. De uma lista de animais, meu pai quis saber qual eu escolhia: tasquei o cachorro e ele jogou o número correspondente. No final da tarde, não deu outra e o bilheteiro, pensando me agradar, chegou acenando com o dinheiro. Cruzei os braços, fechei as mãos e não quis o valor que ganhara, pois eu queria era um cachorro de verdade1! Lembrei deste fato quando, semana passada, uma das atletas que conquistou Ouro nas Olimpíadas disse que estava em dívida com a filha, pois quando apresentou a medalha, ela foi taxativa: aquela não queria, queria a Prata!
Nos dois casos, houve um foco diferenciado de criança que, da nossa perspectiva, pode parecer errado. Mas não é, é “diferente”. Não é a mesma coisa o que está acontecendo no caso da nova gripe e o tratamento dado pelos setores públicos que deveriam cuidar da população, sem ter o direito de errar ou de se enrolar. Escolas reiniciaram aulas no dia 17, outras reiniciarão nos dias 24 ou 31, e outras, ainda, nem deixaram de dar aulas. Qual dos grupos está certo? Em compensação, festas são realizadas, bailões, shows musicais, com centenas, milhares de pessoas em ambientes propícios à transmissão do vírus. Parece-me que, novamente, o erro é de foco. Não creio que a suspensão das aulas seja o melhor. Até porque, há crianças que precisam do alimento distribuído nas redes municipais e estaduais, assim como escolas que, muitas vezes, funcionam como “creches”, pois permitem que os pais trabalhem neste horário.
Uma rede nacional de televisão fez um editorial mostrando que o ministro da saúde mais atrapalha do que ajuda quando se pronuncia, pois sua assessoria, em muitos momentos, precisou retificar informações dadas ao público. Em qualquer nível, há problemas acontecendo e aquela população que anda de ônibus, trabalha nas fábricas, circula pelo comércio, está confusa: recebe informações contraditórias, desencontradas e tristemente alarmistas.
Não há como conter este vírus. Assim como não se conseguiu conter muitos outros vírus espalhados pela sociedade e criando mais problemas e mortes do que este. Um cachorro, uma Prata ou um suíno, em princípios parecem não ter nada em comum, mas enquanto o cachorro e a Prata podem ser considerados como o foco errado ou diferenciado de uma criança, o suíno – que entrou de inocente útil nesta história – precisa ser enfrentado com a seriedade que a saúde pública há muito tempo não vem merecendo neste País.
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