No início da semana, o presidente Lula sancionou lei que, em tese, facilita a adoção de crianças, processo muitas vezes engessado pela burocracia, legislações superadas e estruturas despreparadas para facilitar a vida daqueles que já levaram golpes demais e, se houver uma chance que seja, possam agarrá-la com as duas mãos.
Das muitas matérias que vi, ouvi e li, fiquei sensibilizado pelas crianças menores, abandonadas ou retiradas da guarda dos pais, mas facilmente adotadas, por uma preferência que categoriza, por ordem: menina, recém-nascida, branca.
E a tristeza ao saber que para os meninos, especialmente se forem pardos ou pretos e se tiverem passado dos cinco anos, torna-se praticamente impossível uma adoção. Foi justamente de um deles, enquanto retorcia as mãos, nervoso, mas querendo passar uma mensagem, que ouvi o que mais me chamou a atenção: “o que eu mais quero é ter um pai, um pai trabalhador!”
Confesso que fiquei surpreso com a declaração. Esperava de outro tipo: “alguém que me dê carinho”, “alguém que me tire daqui”, “alguém que me consiga dinheiro”. Mas, porque um “pai que seja trabalhador”?
Na proximidade do Dia dos Pais, é digno de muita reflexão: se criar os próprios filhos já é algo difícil, criar e amar filhos que vêm de situação de risco, sem saber que tipo de marcas lhes ficou da vida anterior, é um ato que não pode ser considerado de ousadia, mas de amor, de muito amor. Um amor incondicional pela vida e pelo direito de sobrevivência e de realização de alguém que lhe foi colocado no caminho pela graça de Deus.
Nos depoimentos que ouço, tanto em meios de comunicação quanto na vida real, vejo pessoas que não sabem explicar racionalmente porque tomaram tal decisão, mas que precisavam fazê-lo, superando o fato de que estão auxiliando alguém, para a própria realização. E que fariam de novo, se necessário. Tanto assim que muitos dos que adotam uma vez, acabam repetindo o mesmo ato.
Tomara que a nova legislação auxilie crianças de todas as idades, de todas as cores e de todos os sexos. Que elas consigam encontrar pais capazes de dar o que necessitam: amor, companheirismo, cumplicidade no ato de existir. E, mirando o seu próprio futuro, sabendo que este é um grande valor na construção de uma família, olhar para aquele que lhe deu abrigo, em especial no seu coração, e dizer que está se realizando porque encontrou um pai, “um pai trabalhador”.
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