Conversava com a Vanda e ela me disse que a emissora de rádio onde trabalha fez uma opção: realçar o positivo, sem negar o oposto, com ênfase em tudo o que pudesse ser otimista. Fiquei contente, pois se os meios de comunicação seguirem esta tendência, mais fácil se torna incutir valores. No entanto, domingo, um programa humorístico de rede nacional lançou um balde de água fria sobre este pensamento. Em poucos minutos, a cena numa biblioteca afrontava um dos maiores valores: o respeito pelo ser humano. Um “falso leitor” tirava os demais do sério por não respeitar um direito fundamental num espaço de estudos: o silêncio. Invocava o direito de estar numa área pública. Como quem diz: aqui eu posso fazer qualquer coisa. O que já se tornou comum, quando pessoas, iludidamente, entendem seus direitos, mas esquecem os seus deveres.
Pior ainda quando entrou em cena um ator caracterizado de idoso, que passou a ser o saco de pancadas do personagem principal, jogado de um lado para o outro, agredido fisicamente, além de ter seu “traseiro” chutado em diversas ocasiões.
Fiquei petrificado diante do que parecia uma brincadeira, falsamente inocente, mas que vai ser repetida por crianças, ao longo da semana, introjetando como valor o desrespeito pela coletividade e a desmoralização da pessoa idosa, já com tanta dificuldade de ver considerado o seu espaço na sociedade.
Pior é que, além das crianças, também os adultos estão sob influência nesta hora, já que se postam diante da televisão com as suas defesas desguarnecidas. A maior parte vai me dizer que não há perigo, porque já estão crescidos o suficiente e não sofrem este tipo de influência. Não é assim. Pois esta mensagem vai corroendo gradativamente os valores e se chega à máxima – e já chegamos – de considerar aquele que envelheceu como um estorvo a ser mantido afastado do lar, para, supostamente, ser protegido e cuidado.
Na maior parte das vezes, tudo o que o idoso necessita é o mesmo que qualquer um de nós: afeto, consideração e respeito. Se fôssemos seguir este trinômio, possivelmente, nenhum humorista tivesse coragem de julgar que a agressão é engraçada e deva ser incentivada e repetida.
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