Dona Águeda tem 78 anos. Lúcida, ágil, andava por toda a cidade fazendo as atividades de banco, compras, ou apenas passeando. Mas na semana passada ela teve um braço machucado e a alma ferida. Embora seguindo todas as “normas de segurança” – a bolsa junto ao corpo, zíper para frente, segura com firmeza – foi literalmente atropelada por um assaltante que não teve nenhuma preocupação em seguir os “itens de segurança” e deixou-a com o braço dolorido e, agora, com a perda da confiança de que podia fazer tudo sem temor de que algo lhe acontecesse, nas ruas por onde andou durante toda uma vida.
Roubaram os 465 reais da aposentadoria - e toda a sua documentação - com os quais contava para a alimentação e a compra dos remédios, já que os filhos mantêm os demais gastos. Mais do que isto, ficou em sua cabeça a dúvida e o medo de andar pelas ruas, tornando-a refém em sua própria casa, de onde não quer sair mais, a não ser até as grades que a separam da rua e trancando todas as portas e janelas, tão logo comece a escurecer.
Numa destas manhãs, num programa de televisão, um especialista em segurança apontava os cruzamentos de uma grande cidade – São Paulo – como um dos pontos mais problemáticos e onde acontece o maior número de assaltos. Cético diante destas “autoridades”, fiquei esperando que sugerisse a retirada dos cruzamentos! Mais ou menos como a história de que para não acontecer “algo a mais”, os pais retiram o sofá cama da sala, reduzindo os amassos amorosos!
Uma situação que beira o ridículo. Mas todas as técnicas ensinadas eram para beneficiar o ladrão: como guardar a bolsa, como entregar a carteira, como favorecer que este gastasse o menor tempo possível em sua “atividade profissional”, evitando a sua irritação e, consequentemente, que utilizasse de arma de fogo. Foi então que a apresentadora ficou indignada e colocou exatamente isto: como é que foram invertidos os papeis e aquilo que deveria ser um direito nosso – a segurança – transformou-se num pesadelo? Silenciaram o repórter e o especialista, porque não tinham o que dizer.
Dona Águeda não quer mais andar na rua. As pessoas circulam com os carros fechados, evitando assaltos. Enquanto isto, os meliantes andam livres, leves e soltos. E as nossas autoridades dão conselhos, mas ficam devendo ações efetivas que contenham o sentimento de indignação e de frustração pela futilidade como se perdem vidas e valores que deveríamos ter o direito de ver preservados.
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