Telefonei ao Charles e ele me contou que estava assistindo o filme “O E.T.” (O Extraterrestre), um clássico do cinema onde é narrada a história da amizade entre um menino e um pequeno ser de outro planeta. O motivo da “sala de cinema” era simples: os pais do Ricardo e do Gustavo deram-se conta de que, embora em seu quarto houvesse o boneco do personagem, não sabiam quem era.
Lembrei desta história ao ouvir a palestra em que o professor contava que somos incapazes de aprender algo que seja absolutamente novo. Mesmo que seja um tema muito interessante, ao sermos apresentados a uma determinada situação, precisamos de “âncoras” já conhecidas, com as quais estamos familiarizados, para podermos entender o que está sendo dito. Usou como exemplo a própria audiência, dizendo que embora estivéssemos ali para ouvi-lo, haveríamos de reter até cerca de 60 por cento das informações repassadas em nível de teoria; e alcançaríamos 80 por cento quando fossem usadas imagens que referenciassem o conhecimento. Mas que, em hipótese alguma, conseguiríamos atingir os 100 por cento.
Assim como fez o Charles com os dois garotos, também acontece no aprendizado: são muitas as situações onde precisamos recordar algo passado e que, mesmo estando de alguma forma em nossas memórias, precisa ser “renovado” como conhecimento, numa simples sessão de cinema ou em alguma atuação comunitária, sala de aula ou situação de trabalho.
Falo a este respeito quando faço minhas conversas com pessoas que atuam em paróquias ou comunidades em diversas dioceses. Embora tenhamos um vastíssimo campo pastoral e teológico, quando as pessoas procuram uma comunidade não estão sedentas de conhecimentos, mas tentando encontrar um porto para abrigo. Portanto, não é necessário que haja uma pregação ou algum tipo de envolvimento que estimule a razão, mas um coração aberto e acolhedor.
Fica claro que elas estão em busca do que possa suprir a sua emoção e o seu imaginário: a própria fé. Muito provavelmente, na preparação de uma Missa, de um Culto, ou de qualquer atividade religiosa, estejamos precisando que, antes de pensar em argumentos racionais, busquemos saber quais são as angústias, os temores, as dores, as felicidades, os motivos de celebração de quem chega. Possivelmente, será necessário, apenas, procurar nos segredos da memória um dedinho erguido em sinal de amizade, como acontece no filme, dizendo: “E.T.!!!”
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