Dedilho lembranças no teclado da saudade.
Recordações de quando estavas junto
a mim.
São memórias fugazes que te fazem
presença.
No instante em que sinto que me
acompanhas
E repetes o nosso solo e o teu
constante sorriso.
Aquele pedacinho da música
Que nos jogava à forma mais pura do
prazer,
onde atentei para cada marca
musical,
Atrás dos traços que marcaram teu
rosto
Enquanto percorrias a juventude,
A maturidade e do tempo da
partida...
A pauta que executo se torna dolorosa,
Mas, necessária, do jeito que
ensinaste:
"Fazer de novo, outra vez, e
ainda recomeçar..."
No etéreo dos sentidos,
Meus dedos se encontram com os teus
Na afinação que é o acorde que
brincou
Com a minha sensibilidade
E fez encontrar sentido na tua ausência.
Não, não te importa se eu fechar os
olhos
E as lágrimas aspergirem os dós, os
rés, os mis, os fás...
A música já está no ar fazendo
aquilo que
Garimpastes no último recôndito do
meu coração:
Almas que se atraem e encontram um
jeito
De permanecerem para sempre interligadas.
O dedilhar dos dias passando
estampa a pauta
Em cada mudança dos nossos corpos.
E eu acaricio cada linha, cada
traço,
Numa partitura em que meus sonhos
Fazem valer a pena cada vez que
Me surpreendeste chegando de
mansinho
Para fazer o duo em que a harmonia
Surtia o efeito do encantamento.
Se ouvires que desafinei, não te
importa.
Ali onde o céu encontra a terra é o
lugar
Em que o Divino e a natureza
conspiram
Para que as estrelas, brincando com
o espelho do mar,
Energizem a canção que não é para
ser ouvida...
O último acorde tem sempre o eco
Em que se vislumbram as lembranças.
Quando dormita a lágrima
Que se nega a fazer o seu percurso,
Assim como o rio que já não quer correr
para o mar.
E ficam suspensos entre o tempo e a
Saudade...
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