sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O espelho das estrelas

 Dedilho lembranças no teclado da saudade.

Recordações de quando estavas junto a mim.

São memórias fugazes que te fazem presença.

No instante em que sinto que me acompanhas

E repetes o nosso solo e o teu constante sorriso.

 

Aquele pedacinho da música

Que nos jogava à forma mais pura do prazer,

onde atentei para cada marca musical,

Atrás dos traços que marcaram teu rosto

Enquanto percorrias a juventude,

A maturidade e do tempo da partida...

 


A pauta que executo se torna dolorosa,

Mas, necessária, do jeito que ensinaste:

"Fazer de novo, outra vez, e ainda recomeçar..."

No etéreo dos sentidos,

Meus dedos se encontram com os teus

Na afinação que é o acorde que brincou

Com a minha sensibilidade

E fez encontrar sentido na tua ausência.

 

Não, não te importa se eu fechar os olhos

E as lágrimas aspergirem os dós, os rés, os mis, os fás...

A música já está no ar fazendo aquilo que

Garimpastes no último recôndito do meu coração:

Almas que se atraem e encontram um jeito

De permanecerem para sempre interligadas.

 

O dedilhar dos dias passando estampa a pauta

Em cada mudança dos nossos corpos.

E eu acaricio cada linha, cada traço,

Numa partitura em que meus sonhos

Fazem valer a pena cada vez que

Me surpreendeste chegando de mansinho

Para fazer o duo em que a harmonia

Surtia o efeito do encantamento.

 

Se ouvires que desafinei, não te importa.

Ali onde o céu encontra a terra é o lugar

Em que o Divino e a natureza conspiram

Para que as estrelas, brincando com o espelho do mar,

Energizem a canção que não é para ser ouvida...

 

O último acorde tem sempre o eco

Em que se vislumbram as lembranças.

Quando dormita a lágrima

Que se nega a fazer o seu percurso,

Assim como o rio que já não quer correr para o mar.

E ficam suspensos entre o tempo e a Saudade...

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