sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Eu te desejo o bem

Com o tempo, fiz a paz com os meus medos.

Eles apareciam sorrateiramente

E asfixiavam meus sentidos.

Difícil dizer o quanto a angústia

Tolhia meus passos,

Comprimia meu peito,

Toldava o brilho do meu olhar.

 

Já tive medos... medo de azares:

De passar por debaixo de uma escada,

Encontrar um gato preto no caminho,

Um relâmpago seguido do soluço de um trovão,

O calçado da criança que, na pressa,

Ficou emborcado na soleira da casa.

 

Os medos da vida e da morte,

Das presenças que amedrontam

E das ausências que apertam o coração.

De não ter aproveitado a oferenda que se chama vida

E os mistérios do desafio que se chama morte.

 

As dúvidas existenciais:

O que fiz com minha existência?

O que farei com o meu fim?

Restará apenas o silêncio

Ou encontrarei o sentido da minha fé?

 

Entendi que mesmo já tendo os membros

Trôpegos, o medo não pode

Paralisar os meus passos.

Apoiado, ou apoiando,

Posso até me tornar prudente,

Mas ainda preciso de um desafio,

Que não está apenas em mim...

 

Tive medo de estar de bem com a vida.

Quando se fecha a mente para perguntas

E se cansou de procurar respostas.

Abri meus olhos ao perceber que o sentido

Estava escrita nas mãos da criança

Que amparei nos primeiros passos;

Na companhia de quem me ofereceu o ombro

Nos momentos em que me sentia abandonado;

No olhar do idoso que fenecia desejando,

Apenas, o aconchego do abraço que gerou.

 

Habita a forma mais radical da acolhida

Que pode se chamar paixão, entrega, ternura...

Ou, simplesmente, a alteridade de confessar:

Eu te amo. Me ama.

És a razão para que eu me esforce

para vencer os meus medos.

Eu te desejo o bem!

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