sábado, 22 de outubro de 2022

O tempo que açoita as reminiscências...

No silêncio em que afloram as tuas memórias,

O ringir que chega com a aragem

É o das dobradiças da porta do teu coração.

A madeira empenada reclama com as dificuldades

De entreabrir um espaço que permita que tuas lembranças

Alcancem a rua, o sol, o passante.

 

Desconfiado, frestearás a vida que escorreu

Pelas calçadas, pelos meios-fios, pelas sombras

Que projetam nos muros a tua solidão.

Para tricotar os fios da saudade que apertam o teu peito,

Precisarás fazer brotar um pouco da tua história

Já sem a certeza se escorre por memórias ou pelos teus sonhos.

 

A luz é diferente e incomoda a tua retina.

É tempo de adaptar-se a um novo olhar.

Como quem filtra as cores pela primeira vez,

Vais te encantar não apenas com uma ou outra cor

Mas com o arco-íris tecido e ao alcance das tuas mãos.

Os gostos e sabores entrelaçados na beleza e no encanto

De rostos, formas, flores, perspectivas...

 


E até quando elas se fizerem ausentes,

Sentiras a falta do que apenas pressentias

E precisastes tocar, apalpar, redescobrir

Num festival de sensações em que

A presença e a ausência se complementam

Pela necessidade de reabrir portas.

 

Percorre a rua como um pedinte:

Esmola um toque de mão, a carícia de um afago;

No roçar dos sentidos, encanta-te com as marcas

Que outros deixaram em teu coração.

E, depois, olha com atenção

Quando passares por outras portas.

As que estão completamente aberta e não escondem nada.

As fechadas que se recolhem ao mistério.

As entreabertas que aguçam o olhar...

 

São as muitas portas que ressignificam nossas vidas.

No seu jeito de acolher, expõem

Um pouco dos nossos encantamentos.

E à noite, quando usares a tramela das tuas inseguranças,

Que na intimidade te descubras sossegado

Pelo eco dos passos das tuas nostalgias

Que seguem ecoando nos paralelepípedos

Onde o tempo açoita os vestígios das tuas reminiscências...

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