A comemoração dos 200 anos da Independência, em 7 de setembro, tem num dos seus eventos a “visita” do coração de dom Pedro I - aquele que a proclamou - ao Brasil. Somente para constar, seu corpo já está em São Paulo (Monumento à Independência). Tendo sido uma decisão do próprio imperador, que, antes de morrer, decidiu que seu coração ficaria em Portugal e seus restos mortais voltariam ao Brasil. Há controvérsias. Historiadores tem interpretações diferentes para esta separação, digamos, macabra...
Tenho ressalvas com o translado de corpos ou partes deles.
Prefiro utilizar a expressão “descanse em paz” no lugar em que morreu, do que,
mesmo após a morte, fazê-lo “turistar” por causas nunca bem esclarecidas... Me
explico: a vinda é operação cara com esquema de translado, segurança,
conservação, além de um estafe político. Embora as próximas eleições tenham
feito alguns “milagres” na economia, sabe-se bem que, mais cedo ou mais tarde,
o brasileiro pagará a conta e também a viagem dos restos mortais...
Creio que ninguém ficaria triste se voltássemos ao
elementar desfile do 7 de Setembro, tanto o militar, quanto o estudantil. Assim
como os protestos que o seguiam, mais recentemente. Mas se vê uma corrida
armamentista desenfreada com a necessidade de expor publicamente o arsenal que
se tem, com a perspectiva do que ficou guardado... Os números são claros: recursos
astronômicos com as guerras - ou a preparação para elas - seriam capazes de
acabar com praticamente todos os problemas sociais que se tem hoje.
Uma das mais perfeitas frases do marketing do mal da atualidade é a que
diz que “se queres a paz prepara-te para a guerra”. Discurso que teria a aprovação
do ministro da propaganda Goebbels, atendendo a interesses dos senhores da
guerra e da indústria armamentista. Consegue-se, assim, uma sociedade apática
diante dos noticiários que tornam "natural" a fome e a miséria e se
coloca como torcida de futebol diante daqueles que morrem nos campos de batalha
por uma ilusão de que defendem seu país...
Outro engano com relação à consciência popular é a tal de exploração de
outros universos. Recentemente, ficou-se encantado ao ouvir o “ronco de um
buraco negro”. Ora, alguém um pouco mais atilado sabe que por trás da disputa
pelo espaço está a corrida armamentista e a conquista de novas fronteiras nos
céus. Sem se contabilizar os gastos assustadores dos investimentos em viagens
pelas galáxias em busca de vida, quando ainda não se aprendeu a cuidar do
elementar na Terra: a vida humana.
O ex-almirante da Marinha dos Estados Unidos, Willian H. McCraven, disse:
“se você quer mudar o mundo, comece arrumando sua cama”. É o caso dos nossos
dirigentes, que precisam reordenar prioridades. A visão belicista suga recursos
vitais para a solução dos problemas sociais. Suposto “patriotismo” em
megaeventos desnecessários retira dos cofres públicos o que deveria ser direcionado
para que o brasileiro garantisse direitos básicos. Com todo o respeito: deixem que
o coração de dom Pedro descanse em paz!
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