Duas histórias de imagens impactaram, recentemente, os crentes, especialmente da Igreja Católica: a visita do papa Bento XVI ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Mais do que as palavras, foram os momentos de silêncio de um idoso, depois de afirmar que “num lugar como este faltam as palavras, no fundo pode parecer apenas um silêncio aterrorizante, um silêncio que é um grito interior a Deus... torna-se um grito ao Deus vivo para que jamais permita uma coisa semelhante”.
Semana passada, foi a vez de se receber pela
televisão, jornais e redes sociais as imagens do papa Francisco em sua “peregrinação
penitencial” pelo Canadá, visitando um cemitério onde renovou o pedido de
desculpas pelo papel da Igreja Católica na violência infligida a crianças de
povos originários do país. No silêncio da sua prece junto ao campo santo,
afirmou: “o lugar que nos encontramos e a lembrança daquelas crianças ecoa um
grito de dor. Desperta em mim tristeza, indignação e vergonha”.
Quem convive ou já cuidou de pessoa idosa sabe que alguém
com a idade de Francisco, 85 anos, enfrentando dores e dificuldades para se
locomover, precisando de uma cadeira de rodas, despende um esforço redobrado
para qualquer atividade. Muito mais quando estas ações demandam uma carga
emocional negativa por todo o sofrimento causado a pessoas: adultos, no caso da
Polônia, e crianças, no Canadá; e por aqueles que, dentro ou fora da Igreja
Católica, não concordam com suas atitudes e tentam desmerecê-las.
O papa parece enfrentar uma corrida de obstáculos.
Cada uma de suas atitudes é passada no crivo da crítica. Quando não conseguem
demovê-lo, a indústria do fake news planta notícias como, das mais recentes, de
que sua condição física o levaria a renunciar. Não duvido. Porém, creio, não o
fará antes de que, em outubro do próximo ano, coroe o Sínodo que traçará os
destinos da Igreja. Ainda será um longo período pela frente, com muitas
contendas e dificuldades, que possibilitam uma depuração da própria
instituição.
No que vai dar? Só Deus sabe. O certo é que a maior
consulta já realizada no seio da Igreja e a gradativa substituição de bispos,
arcebispos e cardeais lhe dão um novo rosto. Mais avançada ou conservadora? Nem
uma, nem outra. Literalmente, incomodados, de ambos os lados, estão se
retirando. O que não significa que venha a se ter “uma paz de cemitério”, com
todo mundo rezando pela mesma cartilha, enquanto fervem os desentendimentos
internos. Um novo patamar nas relações institucionais e pastorais.
Não se pode negar a história. O presente é tempo de
perdão e reconciliação. E mudar a perspectiva do futuro. Um duro caminho para
Francisco, em busca de uma Igreja do Evangelho e do Homem de Nazaré,
perseguindo o “vede como eles se amam” dos primeiros cristãos. Pensavam da
mesma forma? Não. Buscavam o mesmo rumo e eram presença na sociedade. O
diferencial? a fé, justificada na prática religiosa; a esperança, como horizonte
existencial; e a caridade, a efetiva realização do amor ao próximo.
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