sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Primavere-se!

Fecho os olhos e sinto a intensidade

Do perfume da acácia.

Ele dá as primeiras notícias

De que a Primavera desperta.

Por estradas e campos, ao longe,

Numa colina ou nas entranhas de um vale,

Uma árvore acena com a fragrância marcante

E o anúncio de que surge a nova estação.

 

Posso andar pelo lusco-fusco da tarde

Para sentir que o manacá da serra deixou inerte

Seus botões durante todo o inverno

Esperando o tempo de explodir a sua primeira florada.

Os primeiros brotos das folhas precedem

O surgimento de novos galhos, folhas e flores

Anunciando o despertar de luzes e cores.

 

Posso me confundir com muitos outros aromas,

Mas sempre tem um cantinho de Deus

Onde um perfume exala a vida.

Desperta as energias do meu corpo que,

Mais leve e com mais disposição,

Livra-se de todo o supérfluo

Para usufruir do direito de reivindicar

O perfume que entranha o âmago da existência.

 

Posso estar alquebrado e cansado,

Mas preciso dançar no despertar dos sentidos.

É como tecer uma prece invisível

Impregnada de odores e sabores...

Cada semente, cada enxerto, cada muda

Traz em si um germe de felicidade

Na espantosa beleza que explode da vida e do mundo.

 

Posso estar mergulhado no mais absoluto silêncio

Que meu coração diz que chegou

o tempo das canções e de dançar,

De alongar olhares por sobre

Os primeiros raios no horizonte,

Ou perder-se naqueles que despedem a tarde.

Dos pássaros que despertam com a aurora

E os que se recolhem no ocaso.

 

Primavere-se!

Com todos os sentidos que o teu corpo alcança

E aqueles que teu Espírito intui.

Não são apenas indícios de tempos diferentes,

Mas a possibilidade de retomar, de renascer.

Torne-se a semente que, doloridamente,

Imerge em direção à luz.

Na certeza de que, transformada em fruto ou em flor,

Alcança a perenidade de viver apenas uma Primavera!

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