A semana que inicia é de preparação para o dia dos Pais. Muitos vão dar um abraço e, quem sabe, um presente pela comemoração. Outros, como eu, ficaremos na lembrança do quanto foi feliz se ter uma referência masculina, enquanto pessoa. Porque a ressalva? Simples, porque são muitas e variadas experiências de filhos com progenitores que podem ser de todas as raças, credos, níveis de formação e informação. Não existe (e não existiu) um tipo de pai específico que atende a um modelo pré-estabelecido.
Tive a graça de conhecer desde pais que atenderam
quase que integralmente o que penso de ser pai até quem apenas contribuiu com o
processo e, se tivesse se mandado em seguida, teriam dado uma boa contribuição...
Há uma receita para ser pai? Se existe, eu não sei. Mas existem alguns
atributos que são essenciais: carinho, capacidade de ouvir, firmeza em auxiliar
no processo educacional, convicções, disposição para ser amigo, mas, quando
necessário, também ser aquele que auxilia a estabelecer limites.
Para isto, não é necessária uma grande formação.
Qualquer um de nós conhece pais que não passaram da terceira série primária
(caso do meu pai), mas que valores e experiência de vida foram fundamentais
para que se colocassem como referência. E também tem isto: mesmo que os pais
tenham os atributos necessários, as circunstâncias sociais também influenciam
para que, numa mesma família, um filho reaja de uma forma, enquanto outro acabe
tomando rumo e destino completamente diferentes.
Característica necessária que encontrei em tios e
vizinhos foi a do bom humor. Meu pai era o rei das tiradas, aprontando com
adultos e crianças, assim como em comentários engraçados. Porém, tinha o lado
sério e perspicaz. Numa ocasião em que cheguei de reunião em que tudo o que
planejei dera errado, conversamos e ele resumiu numa frase que tenho como
mantra até hoje: “o povo é devagar”. O errado não eram eles: eu queria apressar
um processo de conscientização para o qual não estavam preparados.
As lembranças de infância: retornar à casa da sua mãe,
com longa caminhada beirando o rio Camaquã, onde se tomava banho e, em algum
momento, boiava, colocando-nos sobre a barriga... Cuidando do armazém, com
lugar reservado embaixo do balcão para decorarmos a tabuada e depois a tomava
de cor e salteado... As vezes em que o esperava na frente do Seminário, ao me
levar as roupas lavadas, sábado à tarde, e eu preparava o meu coração, como
dizia o Pequeno Príncipe, do jeito que se faz com quem se ama...
A primeira vez em que, atravessando uma rua, sentindo
que estava confuso, ofereci um braço desocupado (no outro já estava minha mãe)
para que se fizesse a passagem em segurança, foi o dia em que me tornei “o pai
do meu pai”. Aprendi que o tempo é o senhor dos nossos aprendizados. Ser pai,
hoje, é preparar um filho que, um dia, vai lhe dar o apoio necessário para
qualificar a sua velhice... este privilégio em que se estende a mão não apenas
como um pedinte, mas com a necessidade de partilhar a própria vida.
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