O teu primeiro olhar para mim era
Um pequeno milagre às portas do Mistério.
Definia a mística da nossa relação por uma
Caminhada que sequer engatinhava...
Foi depois de teres protestado por te tirarem
Do cantinho escondido no corpo da tua mãe,
Um lugar sagrado onde te preparavas
Para os rituais da vida que eu apenas imaginava.
Te vi abrir os olhos pela primeira vez.
Miraste bem os meus, na curiosidade
que te acompanhou por toda a vida.
Já estava cansado de chorar,
Em silêncio, compartilhando a preparação do parto
E a angústia com o teu nascimento.
No entanto, a lágrima que viste rolar por meu rosto,
pela primeira vez, foi a mais doce,
o maior encanto pelo jeito
Como teus olhos descobriram minha face.
Da forma como, mais tarde, concentrarias
a atenção, me chamando com a palavra
Que sempre me soou como um encanto: Pai!
Meu Mundo estava mudado para sempre.
Tudo o que havia visto, ouvido, lido, assistido,
Transformou-se numa trouxinha que a enfermeira
Depositou em meus braços
E que ia se acomodando ao meu corpo,
Com a vontade de a envolver
Sem jamais deixar que se fosse.
Sei que vou ter muitas preocupações contigo,
Por meus acertos e erros,
Por tuas tentativas, frustradas ou não...
Que haverá momentos em que
Terei dúvidas de tudo o que fiz e que fui para ti.
O que me consola e anima é que, sempre,
Restará a lembrança daquele primeiro momento,
Em que nossa cumplicidade foi selada, apenas,
Por uma lágrima de amor e de felicidade...
A nossa primeira lágrima,
O nosso primeiro gesto de gratidão pela vida!
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