(do livro “Remendos e Arranjos”, de 2004)
- Pequeno menino, o que o
preocupa?
Sempre fazia um certo charme.
- Nada, Mestre, nada.
E a insistência.
- Fale, pequeno menino. Algo o
preocupa. Sei que você gostaria de perguntar.
Parou de caminhar, colocou-se em
frente ao Mestre e, mais do que dizer, murmurou:
- Mestre, como é ter um pai?
Embora aguardasse toda e qualquer
pergunta, para esta, especificamente, o Mestre não estava preparado. Levou em
consideração que o menino fora abandonado na porta do Mosteiro e nunca soubera
o que era ter uma família.
- Porque esta preocupação,
pequeno menino?
- É que está chegando o Dia dos
Pais e as demais crianças falam muito do que vão fazer para eles. É verdade que
eu não tenho um pai?
Já sabia que abrandar a verdade
nunca dava certo com aquele garoto. Preferiu ser direto.
- É verdade. Você não tem um pai
como os demais meninos.
- E como é ter um pai?
Embora se sentindo incomodado,
sabia que tinha que dizer alguma coisa.
- Pequeno menino, ter um pai é
uma bênção. Mas também é uma bênção ter um filho. O pai acorda no meio da noite
e procura a mãozinha do filho, sua respiração. Quando ele cresce, ouve seus
balbucios, acompanha seus primeiros passos desengonçados. Quando se torna
jovem, o pai é o ombro parceiro aonde vai se acomodar quando precisa. E sempre,
mas sempre mesmo, é um olhar cúmplice e amigo com o qual pode contar.
Infelizmente, você não tem um pai.
Os olhos do menino estavam
marejados de lágrimas. Contornou a mesa, apoiou sua cabeça no peito do Mestre e
sussurrou:
- Engano seu, Mestre querido,
tenho no senhor o melhor dos pais. O senhor faz tudo isto por mim!
A cabeça do menino pendida sobre
seu peito impedia de ver que as lágrimas também corriam pelo rosto do ancião.
Era a revelação de Deus que lhe faltava: sempre se sentira estéril por não ter
tido filhos. E Deus colocara em suas mãos muitos, mas muitos filhos para criar.
Agora sabia que fora capaz de fazer cada uma daquelas coisas que sempre pregara
para os outros. Murmurou uma oração e beijou a cabeça do pequeno menino.
Sentia-se pai. E pai tem que fazer a vida continuar, ajudando a encontrar
caminhos, alimentando a esperança do filho, carne ou não da sua carne... que
Deus colocara em suas mãos!
Feliz e abençoado dia para todos
os pais que, de muitas formas, são referência em nossas vidas!
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