O tempo em que as fotografias desbotam
É o mesmo em que se sentem as
marcas
Que definem nossas histórias.
Os retratos que esmaecem
São amores que aos poucos ficam
etéreos,
Desejando que não se percam
E, se possível, virem lendas...
Não têm e não necessitam de explicação.
O que fica na lembrança
Precisa ser contado e cantado,
Até que se transforme em memória,
Que, mesmo assim,
Vai se toldando e toma o rumo do
esquecimento.
Lá vão ficando rostos, corpos,
expressões
O sentimento de que amores
Não precisam ser eternos...
Até podem. Mas não precisam,
Pela própria finitude humana.
O que resta são os registros
físicos
E precisam, sim, ser intensos!
Amor não pode ser confundido com
paixão.
Amor atende às necessidades
primárias do espírito.
Depois de vividos,
Impregnam cada fibra do corpo.
São receptores de energia
Que transpiram pela sofreguidão da
vida.
Ilusão pensar que
Amores se escondem no peito.
Ali apenas renovam-se, voltam a
pulsar
E partem quando precisam de espaço,
E suspiram pelo brilho da luz.
Emergem,
Como as fotografias que, com o
passar do tempo,
Silenciosamente, vão ocupando os
móveis.
Tornam-se lembranças,
Que se apropriam das palavras
E se refazem no interior dos
pensamentos.
São testemunhas e, ao mesmo tempo,
companhias...
No entardecer da vida, quando eu as
esquecer,
Preciso que me ajudes
A criar novas ou revisitar
lembranças.
Rever álbuns onde dormita o meu
passado,
No silêncio da noite, quando um
relógio tiquetaquear,
Ainda marcando o compasso do coração.
Do mesmo jeito que os registros
fotográficos,
Algumas coisas são inevitáveis,
Como as palavras que morrem porque
são esquecidas.
Fotografias sussurram mistérios e
silêncios,
Andam de braços dados com as horas,
Fazem parte de um relógio que
eterniza a memória.
Mas que também se esvai,
Como a ampulheta que não mede o
próprio tempo,
Sem que suas areias saibam que
tornam refém a Eternidade.
Alimentada por presenças que
murmuram carinhos
Pelos balcões, cômodas, bidês,
estandes,
O agridoce sabor da vida que embala
as minhas saudades...
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