Meu interesse por comunicação vem desde os tempos em que os meios que se utilizam hoje sequer engatinhavam. Fui criado na cultura do rádio e do cinema. Ainda criança, o transmissor à pilha incentivava a imaginação, com as novelas que depois estariam na televisão; os programas infantis, especialmente contadores de histórias; os shows de calouros em emissoras que tivessem auditório para apresentações públicas; assim como tocar os discos gravados que utilizavam este veículo e o circo para se popularizar.
O cinema era iguaria à parte. Em especial as sessões de fim de semana e as já contadas e cantadas matinés, aos domingos à tarde. A melhor calça curta, melhor camisa, sapatos e meias, cabelo lambidinho e a recomendação de que não se sujasse, tanto na ida, quanto na volta. Reunir os amigos e ir até a porta da casa de espetáculos para, antes, trocar gibis. Em alguns casos eram tantos garotos sedentos por novas leituras que os porteiros tinham que apressar o ingresso e continuar com as negociações depois da sessão.
No início da década de 60 não tinha ideia do que
estava por acontecer. De que, neste início de século, a discussão seria em
torno da internet, inteligência artificial, robótica e holografia. Tenho que
reconhecer que me sinto fascinado pelas possibilidades que se abrem com as
transformações e os avanços que a ciência conseguiu. A comunicação se
transformou na maior possibilidade e na maior arma já criada pelo homem. Ao
ponto de se discutir formas de restringir o seu avanço, em especial na
inteligência artificial...
Necessário repetir que toda a forma que amplia a
capacidade de utilizar a inteligência humana não existe por si só. É,
exatamente, um “meio”, portanto a serviço do homem, utilizado de forma certa ou
não. Os meios não são bons ou maus por excelência. São apenas meios, que
dependem de uma mente capaz de utilizá-los. Se aproximam ou afastam? Bem, esta é
outra história. Em tempos de alta circulação de informações e de dados, nunca
tantas pessoas se sentiram tão só, com sintomas de ansiedade e depressão.
Batizei como “síndrome do Ogro” ou “de Shrek”, uma
das sensações do nosso tempo. O Paulo Sérgio, vizinho, amigo e dono de uma boa
comida, ficou preocupado que eu repita que já estou velho e tem certas coisas
que não quero fazer. Enquanto um cantor, creio que o Gilberto Gil, com mais de
80 anos, anda serelepe pelos palcos. Verdade, a “ogrice” se caracteriza,
especialmente, pelo desejo de não sair da “caverna”, diante dos recursos que se
tem em casa, no intuito de não incomodar e não ser incomodado...
Meios eletrônicos, hoje, são mais do que meios de comunicação.
Transformam onde se está num centro de autossuficiência: se pedem alimentos,
remédios, movimenta conta bancária, enfim, o que se precisa chega até a porta.
Aumentou a capacidade empática? Não. Ao contrário, vê-se que promessas de conversas,
visitas, passeios vão minguando. O sonho da criança do século passado esmaece,
como no mito de Platão, no fundo da caverna, por onde sombras apenas parecem
com a vida que, de alguma forma, já se foi...
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