terça-feira, 8 de agosto de 2023

Francisco, um homem de fé

Na vida, vi muitos homens, mulheres e administradores plantarem árvores sabendo que pouco veriam do seu desenvolvimento, mas que deixariam um legado para seus descendentes. Foi do que lembrei quando acompanhei a presença do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude 2023. Lá estava um “pop” sem a pretensão de ser “pop”, com seus 86 anos, mobilizando, como na vigília do último sábado à noite, mais de um milhão e meio de jovens. Sim, jovens que cerravam fileiras em torno do seu líder maior.

Francisco tem consciência da idade avançada, mas é pastor que conhece as artimanhas da política, inclusive da sua Igreja. Pena que parte dela não se espelha nele. Ao contrário, solapa mudanças que podem diminuir o fosso entre povo e as elites religiosas. Sua lucidez impressiona não poupando esforços para viver junto a sua gente em momentos cruciais em que resgata a presença dos jovens. A oportunidade de conclamar os encastelados para, já uma frase batida, mas necessária: “fazer uma Igreja em saída.”

O que se tem hoje, na Igreja Católica, é uma instituição que, com raras exceções, vive um apagamento. Do que já foi capilar na sociedade, hoje anda devagar, conservadora, não apenas no sentido de manter a tradição, mas tendo necrosada a sua presença nas áreas de periferia. Ainda longe de viver o que pregou o Concílio Vaticano II, considerado um sopro do Espírito Santo sobre a sua estrutura, embora alguns já projetem a possibilidade da realização de um Concílio Vaticano III.

O olhar que o papa Francisco tem preocupado com a sua Igreja se estende sobre a sociedade internacional. Foi o que ficou claro quando anunciou a próxima Jornada. “Fui convidado para estar em Lisboa. Agora convido os jovens a estar em Seul”. A mesma preocupação que manifestou ao tornar pública a agenda em que ainda se propõe a visitar países periféricos onde a presença do Cristianismo enfrenta dificuldades. Um papa peregrino, sem medo do calçado roto e da poeira que marcará as suas vestes...

Trabalha com a perspectiva do Sínodo que definirá o futuro da Igreja Católica, em duas etapas: outubro de 2023 e no mesmo mês do ano que vem. Em discussão, grandes temas da atualidade na ótica da “comunhão, participação e missão”. Outro lance do papa que, depois de reformar grande parte da estrutura do Vaticano, inclusive com a definição de novos administradores e cardeais (que escolherão o próximo papa), é ajudar a encontrar, como ele diz, os rumos do “caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio”.

Pode parecer redundância falar que um papa é um homem de fé. Mas é, sim, o caso de Francisco. Do que planta, hoje, pouco vai ver florescer e colher. Mas é o arrima que ajuda a persistir, mesmo com sua debilidade física. Antes de encaminhar os jovens para a jornada em Seul, na Coréia, em 2027, pediu que não se preocupem em “sujar as mãos, para não sujar o coração”. De fato, uma nova religiosidade somente é possível se a chama acessa na Jornada for mantida por homens e mulheres que tenham a humildade de reconhecer que novos tempos pedem novas atitudes... pela própria fé!

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