Francisco tem consciência da idade avançada, mas é pastor que conhece as
artimanhas da política, inclusive da sua Igreja. Pena que parte dela não se
espelha nele. Ao contrário, solapa mudanças que podem diminuir o fosso entre povo
e as elites religiosas. Sua lucidez impressiona não poupando esforços para
viver junto a sua gente em momentos cruciais em que resgata a presença dos
jovens. A oportunidade de conclamar os encastelados para, já uma frase batida,
mas necessária: “fazer uma Igreja em saída.”
O que se tem hoje, na Igreja Católica, é uma instituição que, com raras
exceções, vive um apagamento. Do que já foi capilar na sociedade, hoje anda devagar,
conservadora, não apenas no sentido de manter a tradição, mas tendo necrosada a
sua presença nas áreas de periferia. Ainda longe de viver o que pregou o
Concílio Vaticano II, considerado um sopro do Espírito Santo sobre a sua
estrutura, embora alguns já projetem a possibilidade da realização de um
Concílio Vaticano III.
O olhar que o papa Francisco tem preocupado com a sua Igreja se estende
sobre a sociedade internacional. Foi o que ficou claro quando anunciou a
próxima Jornada. “Fui convidado para estar em Lisboa. Agora convido os jovens a
estar em Seul”. A mesma preocupação que manifestou ao tornar pública a agenda
em que ainda se propõe a visitar países periféricos onde a presença do
Cristianismo enfrenta dificuldades. Um papa peregrino, sem medo do calçado roto
e da poeira que marcará as suas vestes...
Trabalha com a perspectiva do Sínodo que definirá o futuro da Igreja
Católica, em duas etapas: outubro de 2023 e no mesmo mês do ano que vem. Em
discussão, grandes temas da atualidade na ótica da “comunhão, participação e
missão”. Outro lance do papa que, depois de reformar grande parte da estrutura
do Vaticano, inclusive com a definição de novos administradores e cardeais (que
escolherão o próximo papa), é ajudar a encontrar, como ele diz, os rumos do “caminho
que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio”.
Pode parecer redundância falar que um papa é um homem de fé. Mas é, sim, o
caso de Francisco. Do que planta, hoje, pouco vai ver florescer e colher. Mas é
o arrima que ajuda a persistir, mesmo com sua debilidade física. Antes de
encaminhar os jovens para a jornada em Seul, na Coréia, em 2027, pediu que não
se preocupem em “sujar as mãos, para não sujar o coração”. De fato, uma nova
religiosidade somente é possível se a chama acessa na Jornada for mantida por
homens e mulheres que tenham a humildade de reconhecer que novos tempos pedem
novas atitudes... pela própria fé!
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