Os administradores eleitos no estado e no país já estão bem alertados de que precisam voltar os olhos para a educação. É momento estratégico para realizar um pacto por um ponto de corte na linha do tempo do ensino. Eduardo Leite, eleito, se comprometeu com alguns partidos da sua base a implementar o ensino em dois turnos, em um número maior de escolas, afirmando que seu governo vai priorizar a área nos próximos quatro anos. E o governo federal traz nomes reconhecidos, tendo preocupação com o social.
O que é um “ponto de corte”? Não é novidade, países já o fizeram ao
compreender que a verdadeira alavanca de qualquer processo de desenvolvimento
se constrói priorizando a educação. Reação a um quadro semelhante ao atual: de infraestrutura,
superlotação de salas de aula, evasão escolar, para citar alguns problemas agravados
nos últimos anos pela Covid-19, que escancarou as diferenças sociais, já que,
mal ou bem, escolas particulares conseguem sobreviver, enquanto a pública não
tem como se manter.
Para quem acha que isto é conversa fiada, acesse a base de dados do Ministério da Educação. O Sistema de Avaliação da Educação Básica aponta que entre 2019 e 2021 o índice de crianças que não sabem ler dobrou. De 15,5% passou para 33,8%, entre alunos do 2º ano da educação infantil, na faixa entre sete e oito anos. O número mais trágico é apontado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância: dois milhões de estudantes, com idades entre 11 e 19 anos, no país, abandonaram a escola durante a pandemia.
Se já é preocupante a questão do conhecimento, fica mais difícil quando
especialistas alertam que a Covid-19 foi elemento preponderante para a falta de
sociabilização de parte dos alunos iniciantes. Houve recuo sócio emocional que
afetou a individualidade e o desempenho na interação grupal. Com um ensino
deficitário, foi atraso que compromete as futuras gerações. Escancara o
pensamento de que o acesso qualificado à educação se transforma em privilégio
de alguns e não num direito de todos.
Infelizmente, a relação entre cidadão e governo, no Brasil, é
clientelista: a candidatura é oferecida, conquista-se o voto e se espera algo
em troca. A pregação do “vamos fazer juntos” é somente discurso diante da
realidade de uma população que, entre outras, lhe falta a educação política.
Por desconhecimento, torna-se refém da própria ignorância. Não é à toa que, por
se ter “políticos de estimação” os resultados das urnas são contestados pelo
simples fato de que o meu grupo não foi vitorioso. Então, não vale...
Os discursos dos candidatos precisam deixar de ser apenas cartas de
intenção e virar propostas concretas. Não importa em quem o senhor ou a senhora
votou. A eleição dividiu o estado e o país e vai levar um tempo para sarar as
feridas, se é que serão curadas. No entanto, engessar atividades públicas é
causar prejuízo maior à parcela da população que sequer consegue entender o
porquê do seu sofrimento. A mudança real inicia com a sociedade assumindo que a
hora é agora para dar uma virada na educação.
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