sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Me chame pelo meu nome...

Muito daquilo que a gente não entende

Acaba por parecer estranho.

O desconhecido assusta,

Então, se prefere as sendas rotineiras,

Que terminam em tédio,

Na mesmice, a repetição que anula a vida.

É triste quando a memória faz esquecer

Daquilo que já nomeamos...

 

Sabes aquela música que eu não sei o que diz,

Numa língua que eu não conheço,

Porém acompanho a melodia, cantarolando,

E me faz cerrar os olhos em doces devaneios?

 

Sabes aquela necessidade de procurar por um nome,

Especialmente quando é alguém diferente,

Que pode ser um autista, um down, um deficiente, um idoso,

Quando se esquece que também tem a bênção de ter um nome

E se chama Luiza, João, Margarete ou André?

 

Sabes aquela criança que apenas consegue se manter em pé,

Desengonçada, e cria o ritmo que harmoniza

O riso com a surpresa, a gratidão com o carinho,

E ginga como se o compasso da vida lhe regesse os passos?

 

Sabes aquele velhinho que ao sorrir

Traça no rosto todas as lembranças da sua história,

Página por página, conta os casos que

Não cabem apenas na realidade,

Mas precisam da imaginação?

 

Pessoas que gostariam de serem chamadas pelo próprio nome.

Por favor, não espere que eu tenha a palavra certa,

A maior parte do que digo emerge

Da profundidade dos meus devaneios...

É onde tenho a sensação de alcançar

A magia que me sintoniza com o Universo.

 

Talvez eu já não lembre de tudo

O que compartilhei contigo.

Se eu não sou aquele que imaginou,

Apenas, segure a minha mão,

Me dê um olhar de carinho,

Me abrace forte como numa despedida.

Lembre-se que um dia eu já fiz o mesmo contigo.

Me chame pelo meu nome.

Me ajude, apenas e tão somente,

A envelhecer com dignidade e a ter o direito de ser feliz...

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